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Diretor de Quando Eu Era Vivo defende importância do gênero horror

31/01/14 às 13:33 Atualizado em 21/10/19 as 23:00
Diretor de Quando Eu Era Vivo defende importância do gênero horror

Depois de ser exibido na sessão de abertura da 17ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o filme Quando Eu Era Vivo chega aos cinemas brasileiros nessa sexta-feira (31). Apostando em um nicho pouco explorado pela filmografia nacional, o gênero horror, a obra tem como ponto de partida o retorno de um homem recém-separado (Marat Descartes) à casa de seu pai (Antonio Fagundes). Além de Descartes e Fagundes, o elenco principal tem a presença da cantora Sandy Leah.

A habilidade de trazer um clima soturno a situações cotidianas já havia sido vista em Trabalhar Cansa, longa-metragem de estreia do diretor Marco Dutra (em parceria com Juliana Rojas). Agora lançando um trabalho solo, Dutra conversou por e-mail com o Cine Festivais a respeito de Quando Eu Era Vivo, da sua forma de produção, do seu interesse pelos gêneros cinematográficos e da pouca influência desse tipo de cinema no Brasil. Leia a entrevista completa a seguir.

 

Cine Festivais: Essa edição da Mostra de Tiradentes discute os processos audiovisuais de criação. O seu trabalho é caracterizado por uma forte colaboração, principalmente com Juliana Rojas e Caetano Gotardo. Como funciona o processo criativo de seus filmes? O que mudou da codireção de Trabalhar Cansa para a direção solo de Quando Eu Era Vivo?

Marco Dutra: O cinema é feito de parcerias. O diretor conduz, mas é na relação dos membros da equipe (e nas faíscas que saem dela) que surge o que há de mais interessante. Dirigi sozinho o Quando Eu Era Vivo, mas as parcerias ao longo do processo foram muitas, todas importantes. Lourenço Mutarelli (autor do livro) e Rodrigo Teixeira (produtor) são as bases de tudo, mas logo de início a roteirista Gabriela Amaral Almeida trouxe sua sensibilidade para o projeto. Luana Demange (direção de arte) e Ivo Lopes Araujo (direção de fotografia) deram carne e sangue para os nossos pensamentos, e os assistentes de direção Daniel Chaia e Sergio Silva fizeram um set quase impossível acontecer de verdade. Na pós-produção, Juliana Rojas e Caetano Gotardo foram parceiros fundamentais. E os produtores nunca deixaram a peteca do filme cair. Dirigir solo é bem diferente porque não há aquela interlocução constante, produtiva, de quando há sempre alguém ao lado. Mas o processo é parecido: existe uma hierarquia, sem que isso queira dizer que alguém dá ordens e alguém obedece. O mais bonito sai das faíscas.

 

CF: Você já havia demonstrado em Trabalhar Cansa um gosto pelo filme de gênero, notadamente o horror. Isso agora é fundamental em Quando Eu Era Vivo. De onde vem esse seu gosto? Você tem algum diretor favorito no gênero?

MD: Cresci vendo os primeiros filmes de Walt Disney, em especial Branca de Neve e A Bela Adormecida – que são, não por acaso, adaptações de contos ancestrais. Há ali uma compreensão e um uso potente do suspense, do horror, do fantástico, da música. Me pareceu, na infância, que o cinema ideal era essa combinação louca: suspense, horror, fantástico, musical. Levei isso para a idade adulta, ainda que outras coisas tenham se misturado ao longo dos anos. Tenho admiração profunda por M. Night Shyamalan e Brian De Palma, além de muitos outros, é claro.

 

CF: Por que você acha que o cinema brasileiro trabalha tão pouco com gêneros (horror, musical, thriller, etc.)?

MD: A história do nosso cinema é linda, e cheia de obras-primas. Não tenho dúvidas disso. Mas é um tanto errante, descontínua, variada – e isso não é uma crítica. O musical, por exemplo, já foi muito amado e produzido como gênero por aqui, na primeira metade do século passado. Acontece que não chegamos a nos apropriar de certas formas que, no entanto, adoramos consumir de fora, e não vejo motivo claro para isso. Talvez seja nossa mania de sempre “mascarar e celebrar”. O Brasil é um país complicado, com uma história de violência e muita coisa reprimida. O horror é um gênero que pode nos ajudar a abordar certos temas importantes da nossa formação.

 

CF: A inquietação gerada pelos traços de horror em Trabalhar Cansa e, agora, em Quando Eu Era Vivo, lembra um pouco os filmes do Kleber Mendonça Filho, especialmente O Som ao Redor e Vinil Verde. Qual relação você faz com a obra dele?

MD: Vi Vinil Verde no Festival de Brasília, foi uma sessão muito marcante. Acho o filme perturbador. E gosto muito também dos outros curtas do Kleber daquela época: A Menina do Algodão e Eletrodoméstica. Acho Trabalhar Cansa um irmão distante de O Som ao Redor – são filmes feitos em períodos muito próximos, mas em que eu, Juliana e Kleber não estávamos em comunicação constante. Havia algo no ar, no entanto, que parece ter servido de alimento para ambas as equipes. Gosto muito quando aproximam os dois filmes, fazendo essa ponte São Paulo – Recife.

 

CF: Em termos de orçamento e produção, houve alguma mudança significativa nas produções de Trabalhar Cansa e Quando Eu Era Vivo? 

MD: Quando Eu Era Vivo é uma produção menor, com equipe também menor e um número reduzido de locações (o apartamento no centro de São Paulo e uma diária no manicômio judiciário do Juqueri). Filmamos em 18 dias. Trabalhar Cansa foi filmado em cerca de 32 dias, em São Paulo, Paulínia e Campinas. O importante é fazer cada projeto se adequar à sua realidade, porque é evidente que mais ou menos dinheiro não significa mais ou menos qualidade.

 

CF: Quantos espectadores fez Trabalhar Cansa? Qual é a importância das exibições em mostras como a de Tiradentes e como fazer para alcançar um público maior quando o filme for lançado comercialmente?

MD: O Trabalhar Cansa passou dos 10 mil em salas comerciais, com lançamento pequeno. Mas foi muito visto em festivais nacionais e internacionais. Apenas nas sessões de Cannes, Paulínia e Brasília, o filme deve ter passado dos 7 mil espectadores. Os festivais, portanto, fazem parte da formação do público de um filme, ainda que não “pagante”. E ajudam o filme a ser visto, compreendido, discutido. Tiradentes foi um parto lindo para o Quando Eu Era Vivo, e certamente colaborou para o lançamento país afora.

 

CF: Qual é a expectativa de público? 

MD: Temos algumas apostas e expectativas, mas prefiro guardar para mim. Voltemos a conversar dentro de alguns meses!

 

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