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Diretor de curta-metragem vencedor em Paulínia fala sobre O Clube

12/08/14 às 13:28 Atualizado em 11/10/19 as 11:50
Diretor de curta-metragem vencedor em Paulínia fala sobre O Clube

“Eu já fiz tantos curtas-metragens que tenho quase todo dia uma ideia para um curta novo”, diz o cineasta Allan Ribeiro. O último filme dele deste formato, O Clube, saiu do último Festival de Paulínia consagrado com os prêmios de melhor filme (júri oficial, popular e da crítica) e melhor direção. A obra foi realizada por membros da Turma OK, clube social palco de shows de transformistas que existe há 53 anos no Rio de Janeiro. Assim como no seu longa-metragem Esse Amor que Nos Consome, Ribeiro realizou um filme híbrido, no qual os personagens interpretam a si mesmos em uma história que ficcionaliza os conflitos ocorridos naquele local.

“Quando eu entrava ali (na Turma OK), parecia que estava entrando no túnel do tempo: a música é de outra época, as roupas, o estilo do local, tudo me parecia muito diferente e anônimo”, conta Ribeiro. O interesse pelo clube e pelas pessoas de lá foi tão grande que ele já pensa em realizar outros curtas-metragens ali em outro momento.

Enquanto não leva à frente essas novas ideias, o diretor vai circular com O Clube por festivais do país. O curta-metragem está na mostra competitiva do Festival de Cinema de Gramado, que termina no próximo dia 16, e também faz parte da programação do 25º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, que ocorre entre os dias 20 e 31 de agosto de 2014 (veja abaixo o horário das sessões do filme no evento).

O Cine Festivais conversou com Allan Ribeiro a respeito do processo de criação de O Clube, do sucesso no Festival de Paulínia, da importância do formato curta-metragem e da relevância do Festival de Curtas de São Paulo. Leia a seguir a entrevista completa.

Cine Festivais: Como você conheceu a Turma OK e como surgiu a ideia de fazer esse filme?

Allan Ribeiro: Eu fui uma vez levado por um amigo que comemorou o aniversário lá, mas não tive ideia nenhuma de filme na ocasião. Não sei exatamente quando surgiu essa vontade. Quando eu entrava ali, parecia que estava entrando no túnel do tempo: a música é de outra época, as roupas, o estilo do local, tudo me parecia muito diferente e anônimo.

Apesar de ser muito importante e ter muitos anos, a Turma OK não é tão conhecida, e nem sei se eles querem essa exposição. Aí, por conta disso tudo, me veio a ideia de fazer o filme. Fiquei ainda uns três, quatro anos buscando recursos para o projeto, porque eu queria pagar os artistas e também ter dinheiro para alugar o local para as gravações.

CF: Como foi o processo de criação e roteirização do filme?

AR: Acho que um roteiro convencional, com entrevistas contando a história do local, já seria muito interessante, mas eu geralmente não trabalho assim. Tento criar parcerias com personagens e a partir daí criar uma história de ficção híbrida, na qual eles interpretam a si mesmos.

O primeiro roteiro que eu escrevi  para o edital tinha como protagonista o senhor mais velho da casa, que se chamava Nelito Flores. Nesse processo de tentar conseguir recursos para o filme, ele faleceu. Então o roteiro foi se modificando ao longo do processo. Na pesquisa do roteiro a gente foi sentindo o jogo de vaidades que também existe nesse meio, e resolvemos botar isso no filme.

Tivemos outros problemas porque eles foram despejados do local onde iríamos filmar um mês antes da data de gravação. Pensei em fazer um filme sobre essa mudança, mas como tinha acabado de realizar um longa-metragem sobre esse assunto (Esse Amor que Nos Consome), resolvi esperar eles se estabelecerem em outro canto. O outro protagonista escolhido também teve um problema de saúde e teve de ser substituído, então foi um processo de roteirização complexo.

CF: Como surgiu a ideia de iniciar o filme em uma igreja?

AR: A ideia veio da realidade deles. Todo aniversário do grupo eles fazem uma missa, só que essa não foi exatamente nos 53 anos. Pensamos em adiantar um ano para quando o filme fosse lançado, então pedimos para o padre rezar uma missa em homenagem à data e ele topou.

Fizemos esse dia de aniversario como ele realmente acontece. É claro que tudo foi um pouco ficcionalizado. Nem sempre tem bolinhas, nem sempre tem tanta gente arrumando o local, mas tudo foi muito parecido com o que acontece mesmo. Achei importante botar a cena da igreja no filme porque é muito curioso um clube desses fazer missa. Achei que isso poderia dar uma força dramática para o filme e também provocar um debate em relação a essas questões.

CF: O que achou dos prêmios que o filme recebeu no Festival de Paulínia?

AR: Foi surpreendente, porque a gente fez um filme muito leve, com interpretações que não sei se podem ser levadas tão a sério, meio fakes. É um filme bobo de certa forma, meio brega. Eles são muito carismáticos, e na tela de cinema todas as dublagens e interpretações ficaram fortes. Estamos felizes com o reconhecimento e temos a expectativa agora de fazer uma boa carreira com o filme.

CF: Muitos de seus filmes já participaram do Festival de Curtas de São Paulo. Qual é a sua opinião sobre o evento, que vai exibir mais um filme seu neste ano?

AR: O Festival de Curtas de São Paulo é para mim um dos principais festivais do país em qualquer formato. Ele faz um panorama muito grande da produção e traz gente interessada em ver e debater os filmes. É um festival incrível, que foi muito importante para mim porque foi nele que eu ganhei o prêmio revelação quando fiz meu filme de formatura (O Brilho dos Meus Olhos), o que me abriu muitas portas. Então é um evento que eu gosto demais e faço de tudo para estar presente quando estou com um filme pronto.

CF: Você já fez um longa-metragem, mas sempre continuou trabalhando com curtas. Qual é a sua opinião sobre o trabalho com esse formato, levando em conta que, no Brasil, muitas vezes esse formato é tido apenas como uma passagem para o longa-metragem?

AR: Eu já fiz 11 curtas e adoro trabalhar com esse formato por ele ser mais leve e te permitir experimentar mais, fazer sem muito dinheiro, errar, se for o caso. Atualmente a safra de longas-metragens no Brasil está muito boa, mas há algum tempo eu só via coisas que me interessavam nos curtas, e continuo vendo coisas boas nesse formato. Aos poucos, essa geração que estava fazendo curtas há 10 anos está aparecendo nos longas e fazendo as melhores coisas que eu tenho visto no cinema.

Parece que o longa-metragem te engessa mais. Tem que ter um projeto muito mais fechado, conseguir mais dinheiro, o patrocinador exige certas coisas, o que vai deixando, para mim, a obra de arte desinteressante. Eu já fiz tantos curtas-metragens que tenho quase todo dia uma ideia para um curta novo. Adoro fazer curtas e espero continuar fazendo. Acho que é um espaço fundamental para o cinema.

CF: Quais são os seus próximos projetos?

AR: Estou editando um filme que seria um curta sobre o artista plástico Darel Valença, mas que vai ser um longa-metragem porque temos muito material para o filme. Foi o único caso em que aconteceu isso comigo. E tem um projeto de longa chamado Só Um Homem Só que eu estou esperando a produtora agilizar algumas verbas. Ele é uma complementação do meu primeiro longa, Esse Amor que Nos Consome.

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