Garça Torta, nome da produtora de filmes criada por Nara Normande, é uma praia em que a diretora passou a sua infância, em Maceió (AL). Foi naquele período e local que amigos lhe contaram sobre uma menina que utilizava um marca-passo. A história marcou Nara a ponto de, muitos anos depois, ela ter a ideia de fazer um filme sobre aquela situação. Começou aí o nascimento de Sem Coração, curta-metragem que saiu premiado da última Quinzena dos Realizadores, em Cannes (França), e está na mostra competitiva do 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
“Nunca cheguei a conhecer a Sem Coração real. Eu fui formando uma imagem dela a partir do que me falavam. Hoje ela deve estar viva, talvez ainda morando em Maceió. É possível que ela tenha ouvido falar sobre o filme pelo jornal…”, comenta a diretora, em conversa com o Cine Festivais.
Nara Normande conheceu Tião quando ambos cursavam Jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco. Os dois fizeram o Trabalho de Conclusão de Curso juntos, já no formato audiovisual. Posteriormente, ele trabalhou como assistente de direção do curta Dia Estrelado. A parceria na direção de Sem Coração, então, foi algo natural.
“Eu trouxe para o filme muitas das minhas brincadeiras de infância na praia, enquanto que o Tião trouxe esse complemento do menino, da visão do protagonista que mora na cidade grande e vai passar as férias na praia. Houve esse contraste entre as duas realidades que a gente viveu”, conta Nara.
De Cannes para o mundo
Enquanto Tião já havia participado (e saído premiado, em 2008, com o filme Muro) da Quinzena dos Realizadores, mostra paralela ao Festival de Cannes, Nara nunca havia frequentado o evento. “Como ele foi o único filme brasileiro em Cannes neste ano, isso deu mais atenção, porque às vezes os curtas acabam ofuscados. Apesar de acontecer junto com o festival, a Quinzena tem uma coisa mais acolhedora, de festival menor. A reação ao filme foi muito bacana, com as pessoas comentando no dia seguinte”, diz a diretora.
A premiação recebida ajudou a provocar interesse de outros festivais em exibir o filme. Depois de passar por eventos internacionais, como o de Vila do Conde (Portugal), Sem Coração teve a primeira exibição no Brasil durante o último Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo. O próximo passo foi a seleção para o prestigioso Festival de Brasília.
“Já havia ouvido falar muito sobre este festival, mas é a minha primeira vez aqui. Acho muito legal estar em Brasília neste ano, que está marcando uma mudança e uma proposta diferente, talvez até radical, dos filmes selecionados. Estou bem curiosa para ver como o público irá reagir ao Sem Coração”, diz Nara.
Além de querer levar o filme para o maior número de festivais, a diretora já tem um projeto de curta-metragem em andamento: Guaxuma, uma animação um pouco mais experimental que Dia Estrelado.
“Vai ter um pouco a ver com Sem Coração, porque se passa no mesmo local em que a gente filmou, mas é um projeto bem pessoal, narrado por mim. Acabei fazendo o filme um pouco para uma amiga minha que faleceu há alguns anos. É uma visão atual minha sobre o lugar em que nasci, que busca analisar esse momento da minha infância”, explica.
* O repórter está hospedado em Brasília a convite da organização do festival
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