Em 2007, o É Tudo Verdade deu Menção Honrosa ao documentário O Longo Amanhecer, Cinebiografia de Celso Furtado, um precioso levantamento dos meandros, altos e baixos, da vida pública e particular do economista Celso Furtado. Agora, o diretor José Mariani volta a se preocupar com a história econômica brasileira em Um Sonho Intenso, panorama das transformações e crises do Brasil desde a década de 30 até os dias atuais.
O que mais salta aos olhos em Um Sonho Intenso, porém, é a uniformidade de pensamento entre os entrevistados. Desprezando critérios mais objetivos, Mariani optou pela harmonia em torno de uma visão ideológica à esquerda no espectro político. Maria da Conceição Tavares, João Manuel Cardoso de Mello, Carlos Lessa, Francisco de Oliveira, Luiz Gonzaga Belluzo e outros intelectuais quase que complementam as frases uns dos outros. Se, por um lado, ergue-se uma costura automática sustentando uma reflexão histórica com posicionamento claro, por outro a complexidade das transformações econômicas e políticas que o Brasil sofreu de 30 pra cá perde suas cores e nuances – num plano em que todos concordam, tudo é mais bicolor, suscetível ao maniqueísmo de uma análise sem muitos conflitos.
Há também a complicada gestão da expectativa por alguma novidade nos argumentos, pois Vargas, Juscelino e o regime ditatorial, por exemplo, foram e são objetos de análise do articulismo e da Academia. Não que um documentário deva ter compromisso irrefutável com o que é inédito, mas, na síntese dos grandes momentos da história econômica do Brasil, o provável mérito de Um Sonho Intenso está na coletânea de intelectuais já bastante conhecidos com dizeres já bastante conhecidos sobre fatos já bastante conhecidos.
Nota: 6,5/10 (regular)