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Sophia, de Kennel Rógis

29/08/14 às 16:03 Atualizado em 08/10/19 as 20:29
Sophia, de Kennel Rógis


Texto de Letícia Fudissaku, do Crítica Curta*

 

Antes mesmo de começar, as palavras do diretor Kennel Rógis sobre o curta-metragem Sophia já me chamaram a atenção: um sensível retrato da relação entre mãe e filha. Tenho um interesse especial por enredos que têm como tema central os relacionamentos. No início, como a aspirante a roteirista que sou, me incomodei com a falta de diálogos – mal sabia eu o quanto isso acresce à história… Extremamente sensível, o diretor definiu bem.

Gosto particularmente do aspecto cíclico da narrativa: todas as pequenas cenas abstratas que pareciam unicamente satisfazer às preferências estilísticas do diretor fazem todo o sentido ao final da trama, e o filme inteiro é “rebobinado” na cabeça do espectador. A descoberta da surdez da filha, na perspectiva do espectador, dá novos significados a diversas cenas, tornando-as até mais poéticas – como quando a filha traz o rádio para que a mãe dance com ela. O silêncio no ambiente familiar, que de início parecia indicar um distanciamento – ou até uma falta de afinidade – entre mãe e filha é, afinal, uma mera circunstância.

A representação em cores distintas para as duas personagens – amarelo e laranja para a mãe e azul para a filha – e o cuidado especial com os diferentes sons da rotina destas foram os elementos técnicos que mais me chamaram a atenção. Exemplo disso é a cena em que a mãe nada em um rio, afundando a cabeça e voltando à superfície. Debaixo d’água, os sons são amenizados ou até eliminados. Mergulhando nas águas azuis, é como se a mãe tentasse reproduzir a percepção de mundo da filha, que não escuta. Essa tentativa da mãe também pode ser notada em outras cenas, nas quais ela usa protetores de ouvido fora do ambiente de trabalho barulhento.

Pelos motivos indicados acima, creio que a experiência de assistir Sophia seja por si só bastante sensorial, com uma trilha que ambienta o espectador de maneira intensa. Justamente por isso, é uma surpresa que, mais ao final, uma música cantada faça parte da trilha – a delicada Meu Amor É Teu, de Marcelo Camelo. Sua melodia combina perfeitamente com as cenas de companheirismo e afeto entre mãe e filha que encerram o curta. Sophia foi o destaque da Mostra Brasil 9 e reafirma a máxima de que existem inúmeras formas de demonstrar amor.

 

*Crítica Curta é um projeto da Associação Cultural Kinoforum que acontece anualmente no Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo. Desde 2005, o projeto convida estudantes de escolas de audiovisual parceiras do Festival para refletir sobre o curta-metragem e escrever a respeito. Os alunos assistem aos filmes dos programas brasileiros e produzem textos críticos, sob orientação do crítico de cinema Heitor Augusto.

Em parceria com a 25ª edição do evento, o Cine Festivais publica alguns dos textos produzidos pelo Crítica Curta. Para saber mais sobre o projeto, acesse a sua página oficial.

 

>>> Acompanhe a cobertura do Cine Festivais para o Festival de Curtas

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