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Satã Disse Dance, de Kasia Roslaniec

24/10/17 às 11:51 Atualizado em 08/10/19 as 20:24
Satã Disse Dance, de Kasia Roslaniec

A temática jovem parece ser uma marca da diretora polonesa Kasia Roslaniec. Satã Disse Dance é seu terceiro filme, vindo após Mall Girls e Baby Blues, todos com protagonistas da mesma faixa etária. O enredo, não muito original ao exibir detalhes de uma vida baseada em sexo e drogas, ganha força na direção e na montagem, diferenciando-se dos já comuns dramas do gênero.

Karolina (Magdalena Berus), no auge de seus vinte e poucos anos, é uma escritora que conseguiu atingir uma fama razoável recentemente e passa pelo limbo entre o último trabalho e o próximo. Sem nenhuma responsabilidade real que a prenda, sua vida é uma constante festa, permeada por drogas, sexo e música. Ou ao menos é isso que é mostrado na maior parte do filme.

Logo no início, um aviso em texto na tela alerta para o fato de que o que vem a seguir se trata de uma obra composta por episódios da vida de Karolina que poderiam ser ordenados de qualquer outra forma, pois o resultado seria o mesmo. Conforme o proposto, o filme não tem uma curva dramática evidente e exibe uma série de cenas da vida da garota que fazem juz ao subtítulo “sex, drugs & instagram”, como se o espectador assistisse a um longo Instagram stories adaptado ao cinema e sem qualquer tipo de censura.

Raras são as cenas em que a jovem faz algo ordinário. Quando come, provoca o vômito em seguida. Quando está com a família, o clima fica tenso em poucos minutos. Até mesmo quando está no hospital, momento em que descobre-se que sofre de um problema cardíaco, a situação se transforma em um bom motivo para tirar selfies. Todas as cenas têm alguma característica forte, dando a impressão de que a vida de Karolina é uma eterna sequência de dias intensos.

Na maior parte do tempo, está em alguma festa, usando drogas ou transando com alguém. O comportamento pouco a pouco se torna previsível, mas é justamente na repetição que passa a ser possível identificar aspectos mais profundos de sua personalidade e entender o que se passa em uma mente que parece se esquivar incansavelmente de pensar. Um bom exemplo são as cenas de sexo com homens, nas quais fica clara a autoconfiança quase egoísta de Karolina, que decide sempre quando e como quer transar, muitas vezes se masturbando ao lado dos parceiros, evidenciando a presença dispensável deles e uma relação de certa forma compulsiva com o sexo.

Esse egocentrismo se relaciona diretamente com o aspecto individualista e exibicionista das redes sociais, um exercício constante de uma autoafirmação vazia. Os retalhos da vida da protagonista, apesar de muito intensos, nada mais são do que uma constante fuga da realidade, em que suas ações têm pouco ou nenhum vínculo emocional com as pessoas. Em alguns poucos momentos de lucidez, Karolina deixa isso transparecer de forma mais clara, como quando seu ex-namorado indaga, sem obter resposta, sobre qual homem a fez realmente se sentir bem.

Satã Disse Dance consegue abordar e, de certa forma, criticar a cultura digital sem falar diretamente sobre isso. A relação com o tema, salvo as eventuais selfies tiradas por Karolina, está na própria forma do filme: a janela 4:3, que lembra a proporção das imagens em um celular; o roteiro composto por pequenas cenas fortes, como posts que mostram os pontos altos da vida de alguém. Sem suscitar um julgamento excessivo sobre o comportamento da garota, o filme se distingue, sobretudo, pela maneira inteligente como mostra o caráter descartável nas relações de parte da juventude contemporânea. A intensidade e a inconsequência de cada dia acaba por torná-los completamente irrelevantes, como postagens que se perdem no tempo, em que sequer a ordem dos acontecimentos tem alguma importância, uma vez que são meramente uma série de ações que terminam em si mesmas.

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