O mapeamento fotográfico de ruas e avenidas é essencial para que funcionem serviços como o Google Maps e outros bancos de dados que nos orientam via satélite. Algumas possibilidades tecnológicas sustentam tal sistema: os diversificados usos de câmeras, a digitalização de imagens e vídeos e a visualização de dados em rede. São elementos que vivem no limite entre a informação e a vigilância, pontuando uma das grandes dualidades que vivemos hoje.
No chinês Rua Secreta, o vetor dessa abordagem díptica é Li Qiuming (Yulai Lu), um jovem engenheiro que trabalha numa companhia de mapas digitais que está cartografando a cidade de Nanjing. Durante o processo, ele descobre uma rua sem saída que não consta em nenhum dos mapas da cidade. É o suficiente para atiçar a curiosidade do rapaz, que passa a rondar o local e observar estranhezas. Em suas visitas, conhece Guan Lifen (Wenchao He), uma garota que trabalha em um dos prédios misteriosos da rua. A nova paixão e a obsessão pela verdade se tornarão perigosas para Li.
A diretora e roteirista Vivian Qu é hábil na condução dos primeiros passos da trama. O desenvolvimento da premissa, já curiosa, aguça nossa tensão ao mostrar Li gradualmente fechando o cerco na busca por respostas. Cada ato suspeito o faz ser mais obstinado e aumenta o tom do mistério, que nos sugere algo grandioso quando Li percebe que a rua sumiu de seu próprio mapa, que acabara de registrar. O relacionamento com Lifen é um paralelo oportuno do roteiro: ela também é um mistério, agora da ordem do amor, para Li.
O tema e a trama de Rua Secreta remetem a diversos thrillers do cinema, entre os quais talvez o mais clássico seja O Homem Que Sabia Demais, de Alfred Hitchcock. Não é uma fórmula simples para se trabalhar; a manutenção do suspense exige uma atmosfera eficiente, um roteiro bem trançado e fluência na manipulação do tempo narrativo. A impressão é que Vivian cumpriu a missão só na 1ª metade do filme. No 2º ato, quando Li vê que está brincando com fogo e passa de investigador a investigado, o filme se arrasta e perde um pouco do vigor. De qualquer forma, não deixa de ser um instigante exercício de gênero erguido sobre uma temática imperativa nos dias de hoje.
Sessões do filme na 38ª Mostra de São Paulo
– 25/10, às 14h45, no Cinesesc
– 29/10, às 21h, no Cinusp