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Relatos Selvagens, de Damián Szifrón

14/10/14 às 22:19 Atualizado em 08/10/19 as 20:28
Relatos Selvagens, de Damián Szifrón

Na comédia Um Conto Chinês, de Sebastián Borensztein, o personagem de Ricardo Darín colecionava notícias de jornal com situações absurdas ocorridas ao redor do mundo, usadas por ele para justificar a sua descrença em qualquer tipo de significado para a vida. Entre aqueles recortes, certamente poderiam estar alguns dos casos apresentados em Relatos Selvagens, filme argentino que também conta com Darín no elenco e é dirigido por Damián Szifrón.

Nas seis histórias reunidas no longa-metragem, os elementos comuns são o descontrole emocional e o desejo de vingança que move os personagens. Como é destacado já nos créditos iniciais, que trazem imagens de diversos animais, o filme explora o lado irracional e instintivo do ser humano, apostando mais no registro do humor e do absurdo do que propriamente na tragicidade de suas situações.

Por ter um único diretor, o trabalho escapa de alguns problemas comumente vistos em filmes episódicos. As situações retratadas formam um todo coerente e as transições entre as partes servem para dar fluidez à narrativa, algo que não acontece em outros trabalhos que apresentam os créditos depois de cada episódio. Outra questão recorrente em obras desse tipo, a irregularidade existe em Relatos Selvagens, mas pesa menos do que em filmes semelhantes.

O episódio em que uma garçonete cogita envenenar a refeição de um cliente é o menos inspirado de todos. A trama que envolve Ricardo Darín também resulta óbvia com as decisões tomadas em seu final. Isso, porém, não faz com que essas duas passagens se tornem desnecessárias ou fora de lugar. Pelo contrário: elas trazem discussões centrais àquilo que o filme deseja tratar.

Na cena do envenenamento, o senhor que vem ao restaurante representa o poder financeiro (que ressurge no episódio do atropelamento) e a classe política; já na história protagonizada por Darín, uma situação kafkiana culmina na indignação contra um Estado impessoal e opressor. Nos dois casos, a ação individual reflete de alguma maneira uma vontade e uma revolta coletivas que aproximam as situações do espectador – não por acaso, a população apoia a atitude de “Bombita”.

Em outros episódios, como no de um voo bem peculiar e de uma noiva que descobre a traição durante a festa de casamento, as motivações se tornam mais pessoais, o que abre um espaço maior para o humor negro adotado pelo filme.

Nesse quesito, o trecho que traz os desdobramentos de uma discussão de trânsito em uma estrada é imbatível. Com um timing cômico admirável, Szifrón concebe um duelo em que o ego e a vontade de vingança superam qualquer tipo de racionalidade.

Ali, o espectador pode até torcer por um ou outro personagem, mas o diretor não nos dá qualquer gosto de vitória. Mesmo rindo, sabemos que temos um pouco daqueles personagens dentro de nós. E que, mais do que isso, a finitude é a primeira das muitas limitações que nos definem como humanos.

Nota: 7,5/10 (Bom)

 

Sessões do filme na 38ª Mostra de São Paulo

– 16/10, às 17h, no Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca 1

– 17/10, às 23h45, no CineSesc

– 19/10, às 17h40, no Reserva Cultural 1

 

>>> Acompanhe a cobertura do Cine Festivais para a Mostra de São Paulo

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