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Pingo d’Água, de Taciano Valério

20/09/14 às 12:32 Atualizado em 08/10/19 as 20:29
Pingo d’Água, de Taciano Valério

Pingo d’Água, longa-metragem de Taciano Valério, se insere nessa nova leva de filmes independentes brasileiros que foi acolhida, sobretudo, pela Mostra de Cinema de Tiradentes, por meio da seção competitiva Aurora. O baixo orçamento, a discussão metalinguística, o improviso e a recusa ao processo de produção tradicional são algumas das características dessas obras. Assim, mais do que parte desse contexto, este novo trabalho de Taciano serve como uma síntese daquilo que estas obras apresentam.

O filme expõe desde o começo o seu processo de feitura, seja através de uma claquete ou da aparição de microfones e de membros da equipe, passando ainda pela reclamação sobre a falta de cachê, que mostra as dificuldades da produção como um elemento a ser valorizado pelos realizadores.

O (ex) crítico de cinema e ator Jean-Claude Bernardet aparece como figura central: há o seu “eu” pensador (“cansei de ser crítico”) e o seu “eu” ator dentro e fora do filme que será realizado (o “verdadeiro” Pingo d’Água). Da mesma forma, os outros atores são apresentados nessas diferentes versões, enquanto a montagem entrecortada, apesar de seguir alguma linearidade, valoriza o hibridismo proposto pela obra.

Como cinema de risco, que se pretende antes como uma busca do que como uma afirmação de certezas, o filme adota alguns vícios que prejudicam a sua fluidez, a exemplo do excesso de citações e da câmera excessivamente tremida, que não apresenta alguma funcionalidade aparente. A opção pelo uso do preto e branco também parece se dar mais pelo experimentalismo estético do que por algo relacionado ao conteúdo da obra, enquanto que algumas passagens menos inspiradas prejudicam o ritmo do filme.

Por outro lado, a nítida sensação de incômodo encontrada nos personagens e no próprio fazer cinematográfico ganha potência pelo caminho do amor, único meio de amenizar essas crises. Nesse sentido, a cena em que Jean-Claude Bernardet entra em uma mala e pede auxílio de um amigo é esclarecedora. Estão condensados ali a insatisfação com o seu lugar no mundo, o deslocamento como necessidade de autodescobrimento e o afeto como propulsor não só do cinema de Taciano Valério, mas também de outros filmes do cinema brasileiro recente.

Nota: 7,0/10 (Bom)

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