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Pássaros de Netuno, de Steven Richter

21/10/15 às 09:00 Atualizado em 08/10/19 as 20:27
Pássaros de Netuno, de Steven Richter

Após Centro de Gravidade (2011), rodado em São Paulo e falado em português, o diretor americano Steven Richter volta ao país de origem com Pássaros de Netuno, filmado inteiramente em Portland com elenco e equipe locais. Fugindo do modelo comercial, o filme busca uma identidade alternativa, mas acaba por se perder no caminho que deveria conduzir além de uma boa estética.

A casa onde as irmãs Rachel (Britt Haris) e Mona (Molly Elizabeth Parker) cresceram é o palco para a maior parte da história. Perturbadas pela lembrança da morte dos pais, há no local supostamente um clima pesado pré-estabelecido, onde nenhuma das partes se incomoda a ponto de tentar enfrentar o duradouro luto. Quando o pretensioso Zach (Kurt Conroyd), inusitado affair de Mona, é introduzido nesse ambiente, surge a faísca para que ambas sejam obrigadas a olhar novamente para o passado, através de um processo de abuso psicológico criado pelo novo morador da casa.

Com personagens de hábitos exóticos e uma premissa razoável, o filme falha ao não sustentar seus potenciais com um roteiro bem construído. A apresentação superficial de Rachel e Mona, focando demais em suas atitudes cool e pouco em suas personalidades, acaba por torná-las em pequenos estereótipos de suas ações – a garota introspectiva que gosta de música e a extrovertida de sexualidade exacerbada, respectivamente. Após esse mal começo, os conflitos vividos por elas também passam a soar rasos demais, impossibilitando que haja alguma identificação real entre o espectador e o enredo.

Esse problema estrutural parece ser consequência do erro de Richter na dosagem entre cenas puramente imagéticas e cenas verbalizadas. No caso das imagéticas, há um excesso de trilha sonora no filme que, apesar de moderna e interessante, acaba por criar sequências longas demais, com um ar de videoclipe, que não acrescentam nada significativo à história.

Esse vazio se choca com as partes verbalizadas, nas quais subitamente os personagens são postos em atividades que entregam de forma direta demais a mensagem do filme, utilizando-se por vezes de monólogos óbvios para traduzir conflitos internos, como na cena em que Mona fala sozinha sobre o remorso que sente em relação aos pais.

A falta de harmonia entre elementos do filme é ainda mais problemática pelo fato de o roteiro não se aprofundar em nenhum dos temas que decide abordar. Ao invés de escolher entre a religiosidade da família, o acidente do irmão, a livre sexualidade, os relacionamentos abusivos e até o aborto, questões com densidade e peso o bastante para serem exploradas isoladamente junto à culpa pela morte dos pais, o longa-metragem acaba por se apropriar de todas essas opções no mesmo nível, dando a sensação de uma busca desesperada por tocar quem assiste com temas fortes, apesar de provavelmente o roteiro não ter sido pensado com este intuito.

Pássaros de Netuno é um filme bem-intencionado, marcado por tentativas frustradas de dizer alguma coisa, e não por um processo preguiçoso. A prova disso está no campo mais técnico, onde há uma detalhada direção de arte, uma bela fotografia e uma criativa trilha sonora.

Bem executado na teoria, o que lhe falta é o domínio sobre como transformar isso em uma mensagem que chegará de forma sensorial ao público. Nesse sentido, seu passeio pelas sessões da Mostra provavelmente será um ótimo exercício de feedback para o próximo trabalho do diretor.

Nota: 5,5/10 (Regular)

 

>>> Acompanhe nossa cobertura para a 39ª Mostra de São Paulo

 

Sessões de Pássaros de Netuno na 39ª Mostra de São Paulo

– Dia 22/10 – 22h – CINESESC

– Dia 23/10 – 19h – CINE OLIDO

– Dia 24/10 – 19h – MIS – MUSEU DA IMAGEM E DO SOM

– Dia 31/10 – 15h – CINE OLIDO

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