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Ótimo Amarelo, de Marcus Curvelo

22/09/16 às 16:48 Atualizado em 08/10/19 as 20:26
Ótimo Amarelo, de Marcus Curvelo

Fogos de artifício estão ligados em nosso imaginário ao Réveillon, momento em que uma cultura associada ao vestuário e ao comportamento é habitualmente seguida com o intuito de vislumbrar um saldo positivo na comparação entre o que se viveu em um ano e o que se viverá no próximo. O curta-metragem Ótimo Amarelo utiliza o som desses explosivos como elo entre dois momentos distintos da cidade de Salvador, tratando de chegadas, partidas e expectativas frustradas.

Logo no primeiro plano do filme, os fogos remetem à história contada pelo protagonista sobre a volta do atacante Bebeto ao Vitória, em 1997. O que era para ser uma injeção de ânimo para os rubro-negros durou cerca de três meses, já que o jogador se transferiu ao Botafogo com o objetivo de aparecer em uma vitrine maior que possibilitaria sua convocação para a Copa do Mundo de 1998 – algo que remete a uma mesma ideia de necessidade de deslocamento que vem à mente de muitas pessoas que vivem longe dos grandes centros econômicos do País.

No mesmo aeroporto em que foi levado pelo pai, anos atrás, para saudar a chegada do atleta, o protagonista retorna à sua cidade natal sem sinais de ter sido bem-sucedido em sua jornada exterior, nem tampouco de que irá ficar em definitivo. Predomina nele um sentimento de inadequação ao espaço, transformado pelas obras que aparecem recorrentemente em quadro, e ao ambiente, já que a direção limita o grupo de antigos amigos ao fora de campo, pois só ouvimos os áudios que o personagem grava em seu grupo de WhatsApp, e nunca as respostas que recebe.

Em uma dessas gravações surge a explicação para o título do filme. O protagonista lembra do sistema de avaliação por cores do antigo colégio, no qual ele nunca conseguiu passar do “ótimo amarelo” para o “ótimo vermelho”, a nota máxima possível. A mesma lógica da busca pelo sucesso rege, implicitamente, a saída dele de Salvador, e volta a estar presente em seu regresso, seja em um outdoor que mostra o nome de quem conseguiu passar em primeiro em um vestibular concorrido ou nas reformas de um bairro nobre da cidade que são tidas como sinal de progresso e de adequação do local a um mesmo tipo questionável de modernidade visto em tantas outras metrópoles.

Talvez pelo fato de que o cinema brasileiro, notadamente o pernambucano, vem tratando muito de questões urbanísticas recentemente, a maneira com que o curta apresenta a cidade em obras como um dado evidentemente negativo carece de uma construção mais complexa, que descole alguns planos do status de clichês temáticos, sem grandes particularidades.

À parte isso, é interessante a forma com que o filme faz a ligação entre o retorno frustrado de Bebeto ao Vitória e um discurso grandiloquente do prefeito de Salvador, ACM Neto, na inauguração do bairro que passou por reformas. Os fogos de artifício, mais uma vez presentes, já surgem como elemento de déjà-vu, de quem não mais acredita nos protocolares votos de “feliz ano novo” sugeridos pelo céu noturno iluminado.

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