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Olmo e a Gaivota, de Petra Costa e Lea Glob

30/10/15 às 10:21 Atualizado em 08/10/19 as 20:26
Olmo e a Gaivota, de Petra Costa e Lea Glob

Petra Costa, diretora mineira premiada em 2012 por Elena, seu primeiro longa-metragem, lança seu novo filme, Olmo e a Gaivota, em parceria com a dinamarquesa Lea Glob. Lea ganhou prestígio com seu curta Meeting My Father Kasper Højat, documentário experimental sobre as memórias de seu pai. A temática familiar permanece no trabalho da dupla, no qual documentam a gravidez da atriz italiana Olivia Corsini.

Olivia se prepara para encenar A Gaivota, de Tchekhov, com seu marido, o também ator Serge Nicolai, quando se descobre grávida. A situação se complica quando é diagnosticada com uma lesão no útero que exige que ela permaneça em casa durante toda a gestação, um pequeno e charmoso apartamento em Paris.

Serge segue atuando, enquanto Olivia permanece estagnada. O limite físico se mostra uma enorme barreira psicológica para alguém que sempre pôde ser muitas pessoas e, de repente, tem dificuldades de exercer seu próprio papel. Olmo, árvore italiana e nome escolhido para o filho, é um enraizamento que se opõe à liberdade que Olivia teria como atriz no momento, profissão que para ela se confunde com sua própria identidade. A partir da solidão e do tédio, ela é forçada a tentar reconhecer a si mesma em sua forma mais pura, distinguindo-se da arte e da encenação.

A travessia que percorre durante a gestação é intensa e traz um ponto de vista que retira o glamour do senso comum de que a maternidade é um ato extremamente altruísta e intrínseco a toda mulher. Pelo contrário, o foco do processo é claramente ela, e não seu filho. Olivia é em essência uma pessoa de personalidade forte, dedicada a si mesma e a seu sucesso profissional, características que são abaladas pela notícia súbita da gravidez, silenciando sua independência.

Apesar de se incomodar com essa imposição externa, em momento algum chega a se punir por não pertencer ao padrão de mães preparadas e pelos pensamentos que a visitam, como os questionamentos em relação a Serge. Ela se mantém livre dentro de si, permitindo-se sentir medo das mudanças que se aproximam e mostrando que o dom materno é algo a ser construído.

A dualidade do filme entre documentário e ficção é uma forma que permite que esse universo interno de Olivia seja sentido pelo público. Assim como a própria atriz vive entre a realidade e o teatro, as cenas dos ensaios da peça se misturam suavemente com os momentos cotidianos de Olivia e Serge. As falas do espetáculo remetem à vida e a vida se mostra poética, confundindo os dois extremos.

A voz off de Petra surpreende em alguns momentos no apartamento, lembrando ao espectador que o casal está de fato sendo observado, e por outro lado contradizendo o ar documental, quando a diretora os incentiva a agir de diferentes formas, conduzindo-os como atores.

O modo impressionante como esses pontos se misturam é uma marca de Petra, criando algo sempre harmonioso através da montagem das imagens de arquivo com o material bruto, casados com uma bela trilha sonora e a narração subjetiva, conjunto que permite ao espectador se deixar levar pela viagem pessoal da personagem, assim como acontece em Elena.

Nesse novo projeto, é fácil perceber os diversos pontos nos quais a identidade da diretora está presente, sem que ela se dilua pelo fato de estar coproduzindo o filme fora do Brasil, como acontece frequentemente. Por manter sua integridade e estabelecer uma linguagem clara e poética com o público, Olmo e a Gaivota tem potencial para alcançar lugares distantes, ajudando a reacender a capacidade artística do cinema nacional.

Nota: 8,5/10 (Ótimo)

 

>>> Acompanhe a cobertura da 39ª Mostra de São Paulo

 

Sessões de Olmo e a Gaivota na 39ª Mostra de São Paulo

– Dia 31/10 – 19h10 – RESERVA CULTURAL 2

– Dia 01/11 – 13h30 – ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – FREI CANECA 2

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