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O Idiota, de Yury Bykov

19/10/14 às 03:15 Atualizado em 08/10/19 as 20:28
O Idiota, de Yury Bykov

É natural que questões políticas atuais e urgentes gerem uma leva de filmes sobre o assunto. Isso não quer dizer, evidentemente, que essa onda sempre será positiva em termos de qualidade cinematográfica. Felizmente, ao menos em O Idiota, de Yury Bykov, a crítica sobre a Rússia de hoje gerou um belo filme.

Na primeira sequência, na qual o diretor demonstra apuro na movimentação dos atores e da câmera, um alcoólatra espanca a mulher. Em seguida, é mostrado um plano geral daquele prédio, opção que só será entendida com o passar da projeção.

O protagonista do filme não é o personagem dessa cena inicial, mas sim um humilde encanador que vive com os pais, a mulher e o filho. Dima (interpretado de maneira intensa e marcante por Artyom Bystrov) estuda para passar em um concurso e trabalha fazendo vistorias em prédios. Em uma dessas ocasiões, ele descobre uma grande rachadura em um edifício (o mesmo da cena inicial) e chega à conclusão de que a construção pode cair a qualquer momento. No entanto, para tirar dali os mais de 800 moradores, ele terá que convencer as autoridades locais sobre o real perigo da situação.

A iminência da tragédia gera uma tensão muito bem conduzida por uma direção que usa a câmera na mão para acompanhar o seu protagonista de perto, passando uma sensação de claustrofobia que reflete o caminho de Dima à medida que ele se vê mais sozinho em sua missão, abandonado aos poucos até pela família.

De um lado, temos a histórica estrutura corrupta de um Estado representado por políticos que perpetuam uma festa particular sustentada pela população; de outro, uma potência que sofre de um colapso moral e está prestes a ruir como o tal prédio, com moradores cuja capacidade de indignação parece ter sido sedada há muito tempo pela vodca ou pela simples resignação.

Esmagado entre os dois está “o idiota”, aquele que, assim como no livro homônimo de Fiodor Dostoiévski (1821-1881), não encontra espaço para uma conduta íntegra em meio a uma sociedade corrompida. A proeza do filme consiste em explorar a identificação fácil com os oprimidos pelos poderosos para só depois nos puxar o tapete e estabelecer o seu diagnóstico desolador, que fica marcado na memória devido ao seu belíssimo plano final.

Nota: 8,0/10 (Ótimo)

 

Sessões do filme na 38ª Mostra de São Paulo

– 21/10, às 14h, no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 4

– 23/10, às 21h, na Cinemateca Brasileira – Sala Petrobras

 

>>> Acompanhe a cobertura do Cine Festivais para a Mostra de São Paulo

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