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Nada, de Gabriel Martins

13/11/17 às 10:24 Atualizado em 08/10/19 as 20:24
Nada, de Gabriel Martins

O futuro é o nada

 

A sessão “Nada será como antes” no X Janela Internacional de Cinema do Recife trouxe no encerramento um dos curtas-metragens que representou o Brasil na Quinzena dos Realizadores no último Festival de Cannes. Nada, filme que teve estreia brasileira no último Festival de Brasília, foi realizado por Gabriel Martins, jovem cineasta negro de Minas Gerais que também trouxe ao Janela o longa-metragem O Nó do Diabo, codirigido por Ramon Porto Mota, Ian Abé, e Jhésus Tribuzi. Diferente deste último, o curta adentra um terreno pouco especulado: o da negação.

Bia (Clara Lima), menina negra de 18 anos, está no período de inscrição para o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e não vê motivos suficientes para seguir o mesmo destino que os amigos de turma. O filme de Gabriel Martins, de forma sutil e segura, aborda a negação aos meios convencionais de vida. Fazer um vestibular, escolher uma profissão, seguir a mesma rotina até o fim de sua vida – em suma, seguir a norma – talvez possa não ser o desejo de uma parcela de jovens até então desconsiderada.

Adolescer, crescer e estar presa a uma cultura ocidental basicamente ligada à necessidade de se inserir em uma cadeia de produção e aprender a sobreviver a ela são pontos pouco questionados em uma sociedade cristalizada dentro deste raciocínio e estilo de vida. Bia, em todo o seu tempo de tela, é a expressão das inúmeras tentativas de embate com este mundo que nos é imposto. A menina, que tem o Rap como uma outra possibilidade de destino profissional, se esquiva até mesmo deste caminho, talvez por querer manter contigo a única coisa que a possa fazer sentir viva, evitando transformar algo puro em algo corrompido.

No filme de Gabriel Martins, não só o Rap, mas a música numa perspectiva geral, tem participação especial na construção narrativa. Desde a trilha sonora até os momentos mais íntimos da família ou da escola, ela tem seu papel dramático muito bem empregado no que constitui os ambientes em que Bia está inserida. A obra, portanto, também fala de representação de uma cultura negra resistente a uma cultura ocidental imposta. No curta, dentro do que constitui o pensamento de Bia, o Rap também alcança sua redenção; ele ainda é possível longe de toda a cobrança do mundo real.

Em meio à ascensão de discussões e reivindicações por narrativas negras em nosso país nos últimos anos, ver em um núcleo familiar negro questões como o Rap, a viabilidade de um caminho artístico ou apenas a possibilidade de diálogo entre pais e filhos sobre questões contemporâneas como algo natural pode ser uma iniciativa narrativa que realmente surta efeito na sociedade em que vivemos. Neste sentido, Nada é um filme atual, que alcança diálogo com uma parcela significativa de jovens e negros brasileiros, maioria da população, infelizmente pouco representados pela cinematografia brasileira.

 

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