O curta-metragem brasileiro Meu Amigo Nietzsche mostra uma maneira sarcástica e irresistivelmente divertida de abordar o analfabetismo funcional e a síndrome crônica que abate a educação no Brasil. Crítico às instituições formadoras e conservadoras da sociedade brasileira – a escola, a família e a igreja -, o filme de Fáuston da Silva conta a guinada do menino Lucas, que encontra um exemplar de Assim Falou Zaratustra, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, no lixão e começa a lê-lo.
Logo o curta se revela uma trama de maturação, pois Lucas, antes considerado um “péssimo aluno”, realmente devora o livro e passa a dominar conceitos, a falar bonito e a expor raciocínios exuberantes. Mas, ao invés de colher admiração, acaba assustando sua mãe e sua professora, agora aflitas na tentativa de diagnosticar o mal que atormenta o garoto: para a mãe, aquilo é coisa do demônio e só a igreja o salvará; para a professora, é o surgimento de uma potencial liderança nociva.
Feito a partir de recursos evidentemente limitados, Meu Amigo Nietzsche é um sopro de autenticidade se considerarmos que a maioria dos filmes sobre a periferia (o curta se passa na Cidada Estrutural, periferia do Distrito Federal) assinala a violência como protagonista na denúncia da desigualdade social. Ao apontar sua câmera para a educação e tratar do tema com humor e muita fluência narrativa, Fáuston já se diferencia e conquista a plateia.
O sucesso da abordagem vem acumulando prêmios, com boas passagens pelo Festival de Brasília e pelo Clermont-Ferrand, tradicional festival francês dedicado aos curtas-metragens, onde Meu Amigo Nietzsche faturou o prêmio do público e o de melhor comédia da competição. A obra cria expectativa sobre o nome de Fáuston e sugere que o cinema do Distrito Federal, que recentemente nos trouxe o ótimo Branco Sai Preto Fica, vive um bom momento.
Nota: 8,0/10 (Ótimo)
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