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Livre, de Jean-Marc Vallée

22/10/14 às 11:54 Atualizado em 08/10/19 as 20:28
Livre, de Jean-Marc Vallée

A temática de Livre pode inicialmente soar batida. Ao abordar a trajetória de Cheryl Strayed (Reese Witherspoon) pela Pacific Crest Trail (PCT), longa trilha nas terras norte-americanas, acaba lembrando diversos filmes já feitos sobre personagens isolados na natureza, como os quase recentes Na Natureza Selvagem (de Sean Penn) e 127 Horas (de Danny Boyle), sem falar de inúmeros road movies. Tal impressão difere bastante do filme anterior do diretor Jean-Marc Vallée, Clube de Compras Dallas, no qual a sinopse se destaca bastante por sua originalidade. Ao se dar uma chance ao longa, entretanto, o singular prisma por onde é filtrado o percurso da protagonista se mostra interessante, assemelhando-se aos conflitos sociais explorados em Dallas pela questão da igualdade de gêneros.

As duas intensas personagens femininas, Cheryl e sua mãe, Bobbi (Laura Dern), têm claramente uma ligação muito forte. Vítimas do alcoolismo violento do pai e sem muita atenção do irmão, apoiam-se uma na outra, ao estilo mãe-melhor amiga. Com a perda súbita da figura materna, a garota sai de sua zona de conforto e, numa espécie de fuga para o oposto, se vê atolada em ações desenfreadas e autodestrutivas envolvendo o sexo masculino: a traição, o sexo promíscuo e casual, a gravidez indesejada. Inclusive nas cenas de uso de drogas, algo que seria mais pessoal, a personagem é mostrada sendo influenciada por algum homem e acaba cedendo aos delírios do “desconhecido”.

Movida por essa impulsividade, Cheryl decide percorrer a PCT com a premissa de orgulhar a mãe, quando na realidade não sabe exatamente o que isso significa. Sozinha em uma trilha onde praticamente só há homens, a personagem é obrigada a enfrentar os obstáculos por si só. Apesar de tentar parecer firme, cada um que cruza seu caminho desperta desconfiança nela e no espectador, enquanto sua insegurança é refletida durante os momentos de solidão em flashbacks cada vez mais profundos sobre a mãe e as consequências do trauma de perdê-la, quase num desejo de obter novamente seus cuidados. No decorrer dos quilômetros, fica claro que o maior desafio de Cheryl é conquistar sua verdadeira independência, principalmente emocional, e isso significa encarar a morte da mãe de frente e se desprender dela, enfrentando o oposto disso: o lado obscuro dos homens, do qual sempre foi protegida.

Ao conviver com sujeitos de todos os tipos, sejam eles machistas ou excitantes, e até algumas mulheres, agradáveis ou não, Cheryl passa a ganhar confiança e percebe que é tão capaz quanto qualquer um de terminar a trilha, constatando que a questão de gênero, quando enfrentada, simplesmente deixa de existir. A verdadeira selvageria à qual aprende a se entregar são as infinitas possibilidades da vida e das pessoas, sejam elas boas ou ruins, o que a permite aceitar o passado e se libertar no presente.

Em um balanço final, Livre acaba por falar mais sobre a convivência com os outros do que sobre a solidão, o que permite um filme dinâmico e por vezes até divertido. Leve e simultaneamente emotivo, como sua protagonista, merece a imersão para além do convencional filme de viagem.

Nota: 7,5/10 (Bom)

 

Sessões na 38ª Mostra de São Paulo

– 22/10, às 17h40, no Espaço Itaú de Cinema – Augusta 1

– 26/10, às 20h15, no Cine Sabesp

 

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