facebook instagram twitter search menu youtube envelope share-alt bubble chevron-down chevron-up link close dots right left arrow-down whatsapp back

Homem-Carro, de Raquel Valadares

12/06/15 às 14:11 Atualizado em 08/10/19 as 20:28
Homem-Carro, de Raquel Valadares

A evolução da indústria automobilística brasileira é um capítulo à parte em nossa história. Marcado por momentos de pujança e dificuldade desde a instalação das primeiras fábricas nos anos 1950, o setor sempre acompanhou as mudanças dos ventos sociais, políticos e econômicos do País. O documentário Homem-Carro, primeiro longa-metragem de Raquel Valadares, resgata vários aspectos dessa jornada por meio de um de seus protagonistas, mas não de maneira óbvia: mais importantes que os fatos são as memórias desse personagem único, o próprio pai da diretora.

À beira dos 80 anos, Anísio Campos é uma das lendas vivas da matéria. Foi piloto por algum tempo antes de se dedicar ao design de automóveis por décadas a fio. Seus projetos pioneiros estamparam as mais variadas revistas e jornais, embora hoje sejam mais lembrados entre aficionados e colecionadores.

Ao mostrar detalhes desse processo de confecção, o filme revela que o Brasil já teve uma cultura de criação automobilística muito forte, sucumbindo somente à abertura comercial para importações no governo Collor. Modelos com traços 100% nacionais eram produzidos quase artesanalmente, ao mesmo tempo em que chassis de carros populares se transformavam em veículos novos.

Ao narrar esses acontecimentos, Raquel toma emprestada as lembranças do pai. São poucas, e pontuais, as narrações em off: as informações vêm quase sempre de Anísio em uma turbilhão de pensamentos, às vezes desencontrados, mas sempre apaixonados. Vale apontar que a saúde do protagonista é um tema relevante, mas nunca abordado diretamente. Tem-se um comentário sobre remédios ali, a revelação de uma internação aqui. Opção justa da diretora para não tirar as coisas de foco.

Para preservar essa memória já afetada pelo tempo e pelo corpo, a obra segue a cartilha Eduardo Coutinho de se criar documentários, fazendo com que o próprio retratado se construa em frente à câmera para o público. O filme, por isso, também se torna um personagem: Raquel sempre está em quadro, seja ajudando o pai a revolver o terreno de suas recordações ou conversando com sua equipe técnica.

Existem momentos mais frouxos, no entanto. Alguns fatos são explicados de forma superficial, principalmente no início, quando se demora a entender a relevância de Anísio para o cenário automobilístico. Dá até pra apontar um par de cenas sem tanta relevância para o enredo proposto. Mas, talvez, a própria estrutura da obra impeça uma maior objetividade.

Em seu primeiro documentário de longa duração, Raquel Valadares faz um trabalho delicado, acertando na abordagem intimista para um tema tão pessoal e cheio de sentimentos. No fim, pode-se dizer que o “homem-carro” é muito mais carne do que máquina.

Nota: 7,0/10 (Bom)

 

*O filme Homem-Carro faz a sua estreia mundial no 4º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba

 

Sessões de Homem-Carro no 4º Olhar de Cinema

– 14/06, às 18h (Shop. Crystal – Espaço Itaú 3)

– 16/06, às 17h45 (Shop. Crystal – Espaço Itaú 3)

 

Leia também:

>>> Cobertura do 4º Olhar de Cinema

Entre em contato

Assinar

Siga no Cine Festivais