facebook instagram twitter search menu youtube envelope share-alt bubble chevron-down chevron-up link close dots right left arrow-down whatsapp back

Great Muy Bien, de Sheyla Pool Pástor

29/08/17 às 11:21 Atualizado em 08/10/19 as 20:25
Great Muy Bien, de Sheyla Pool Pástor

Texto de Gabriel Faustino, do Crítica Curta*

 

Great Muy Bien explora, com seu naturalismo cinematográfico oriundo de uma linguagem documental, as relações implícitas exercidas pelo imperialismo estadunidense em Cuba, explanando uma ótica universal sobre sua narrativa cotidiana.

Estudantes de meia-idade em uma escola de inglês na região de Havana, em Cuba, aprendem inglês e relatam qual a importância do idioma para suas vidas, influindo na construção de seus futuros. Muitos procuram aprender a língua porque desejam viajar, se comunicar com estrangeiros, entender melhor o texto da bíblia em inglês etc. Porém, o que se esconde no conteúdo de uma narrativa rotineira é uma das tarefas ideológicas do imperialismo, ou seja: ele é responsável por construir a imagem do “american way of life” enquanto algo reluzente e atraente, por mais que não façamos ideia, na realidade concreta, de como seja.

Os objetivos principais dos estudantes consistem em viajar para estados e países norte-americanos, como uma das alunas que buscou as aulas apenas para realizar o sonho de conhecer Las Vegas. A idealização construída sobre os desejos de viagem, que se enquadram justamente em visitar países estadunidenses, embora o idioma não esteja engessado apenas no país, representa a formação da figura dos Estados Unidos como unicidade centrada tanto na língua quanto no deslocamento inicial de desejos e modelos primordiais de vida.

Se fizermos um paralelo com o longa-metragem A Jaula de Ouro, drama de 2013, dirigido por Diego Quemada-Diez, que narra a jornada de três jovens guatemaltecos, sendo um deles indígena, que aspiram a uma vida melhor e tentam chegar nos EUA, conseguimos tangenciar a construção cinematográfica em cima do idealismo construído sobre a “terra das oportunidades”.

Embora o longa citado seja um drama árduo, que mostra as dificuldades de emigrar para o país desejado, enfrentando a violência das fronteiras e as lutas diárias por sobrevivência para, enfim, se enjaular no objeto de desejo e descobrir que suas possibilidades atraentes são, na realidade, um chamariz repleto de frustrações, o curta-metragem Great Muy Bien consegue abordar uma rotineira escola de inglês na Havana que enfrenta o mesmo princípio.

De modo naturalista, sem picos de emoção ou aprofundamento nas personagens, o curta reflete sobre um dos tentáculos imperialistas mais cotidianos e naturalizados. Todos aspiram ao molde de vida norte-americano, seja ele uma simples viagem ou a necessidade latente de aprender inglês. A estrutura de idealização é universal e amplamente reproduzida em qualquer nicho social.

Sheyla Pool Pástor, que dirige o filme, reflete nos créditos finais sobre o crescimento de escolas de inglês em Cuba desde 2015; elas preparam seus alunos para um futuro em que as relações entre o país e os EUA estejam normalizadas.

Mesmo Cuba passando por um longo período de regime socialista e sendo um dos principais alvos dos EUA, o filme reflete sobre a relação cada vez mais estreita entre os dois. Se antes tal relação era por oposição ideológica e política, hoje tal convivência se aproxima através dos braços imperialistas. A escola periférica Big Ben nos apresenta o cotidiano sem pedantismos ou enfeites em cima da vida de seus alunos.

Porém, o filme converte tais personagens em figuras universais afetadas pela popularização do discurso que constrói o idealismo acerca dos EUA. Não são apenas alunos de uma escola de inglês que desejam conhecer Las Vegas, mas sim toda uma população mundial que coloca a América do Norte no topo da sua lista de interesses.

 

Great Muy Bien está na seção Latinos 3. Clique aqui e veja a programação do filme no 28º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo.

 

*Crítica Curta é um projeto da Associação Cultural Kinoforum que acontece anualmente no Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo. Desde 2005, o projeto convida estudantes de escolas de audiovisual parceiras do Festival para refletir sobre o curta-metragem e escrever a respeito. Os alunos assistem aos filmes do festival e produzem textos críticos, sob orientação do crítico de cinema Sérgio Rizzo.

Em parceria com a 28ª edição do evento, o Cine Festivais publica alguns dos textos produzidos pelo Crítica Curta. Para saber mais sobre o projeto e ler todos os textos produzidos, acesse a sua página oficial.

Entre em contato

Assinar

Siga no Cine Festivais