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Estamos Todos Aqui, de Chico Santos e Rafael Mellim

23/01/18 às 15:04 Atualizado em 08/10/19 as 20:24
Estamos Todos Aqui, de Chico Santos e Rafael Mellim

O ímpeto maior de Estamos Todos Aqui parece sempre ser o de mapear os movimentos que formam o espaço sobre o qual o filme repousa suas lentes. Tudo ali gira, tudo ali se movimenta; há os navios, e por trás dos navios os trens, e por trás dos navios e trens, pessoas. Tudo está num estado de emergência difícil de ser decodificado pelos olhos. Porque nossos olhos são em parte olhos formados pelo sensacionalismo, pelo voyeurismo da violência, e a câmera que não aceita esse acordo chega a causar vertigem.

Os movimentos reconhecidos pelo curta paulista ganham dimensão sobretudo quando são sincopados por uma das presenças em tela mais impressionantes desta Mostra de Cinema de Tiradentes: a energia da protagonista Rosa Luz carrega tudo junto consigo; arrasta câmeras, pessoas, foge aos planos.

A força motriz de Estamos Todos Aqui se completa na presença de Rosa, e a permanência que esse efeito produz é a afirmação de uma dignidade inegociável, justamente por não se tratar de uma super-heroína. O filme tem ainda outra qualidade: no registro da história em curso (das ocupações, da violência sistêmica contra trans no Brasil), o curta sabe que o desenvolvimento dos acontecimentos tem mais força que o acontecido (neste sentido, o curta-metragem Hiato, de Vladimir Seixas, conversa muito com Estamos…)

Destoante fica apenas a impressão de ser tamanha a energia de Rosa que talvez fosse possível dar mais tempo para sua presença, para a energia que emana do corpo e da presença da jovem, estendendo a relação dela com os movimentos constantes no espaço em que está inserida.

A emergência presente na vida daquelas pessoas, daquele espaço e de sua protagonista conduz às explosões físicas do filme, que no curso desses registros desautoriza qualquer arbitrariedade. Não há discurso imposto àquelas pessoas, não há um aparelhamento daquele espaço, porque entre as características da protagonista, as características de sua verborragia retórica e as características de sua presença física funda-se um vínculo de legitimidade: uma só existe se a outra existir.

 

*Filme visto na 21ª Mostra de Tiradentes

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