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Ernie Biscuit, de Adam Elliot

22/08/15 às 15:34 Atualizado em 08/10/19 as 20:27
Ernie Biscuit, de Adam Elliot

O australiano Adam Elliot e as histórias tragicômicas de suas pessoas de olhos grandes e desiguais ocupam um lugar singular dentre as animações feitas com a técnica do stop-motion com massinha (do inglês, Clay Animation). Verdadeiras biografias, as Clayographies, como denomina seu próprio autor, literalmente “retratam” a vida de personagens solitários que assumem riscos para superar suas zonas de (des)conforto. Seu curta-metragem Ernie Biscuit não foge a essa regra.

Numa montanha-russa de momentos exageradamente trágicos e ironicamente cômicos, é fácil identificar-se com o estrambólico taxidermista parisiense Ernée Bisquit, acometido dos mais variados infortúnios. Completamente surdo por conta da clássica e travessa bomba-no-banheiro, foi uma criança reservada, dedicada aos seus desenhos. Dono de Edith, um pato que havia dado de presente para seu grande amor de infância antes deste ser levado pela guerra, Ernée decide superar suas trágicas memórias arrastadas após receber um chamado por vias de absinto e telepatia de um pássaro empalhado que caiu morto na sua porta. Num surto de coragem, ele fecha sua loja e compra passagens para Veneza, determinado a mudar de vida. Porém, dada sua sorte, aterriza na “estranha” Austrália, onde vai tropeçar no caminho de personagens que vão apreciar suas qualidades, talentos e até seu pato de maneira diferente, e inclusive adaptar seu nome de maneira mais australiana: “Ernie Biscuit”.

Num formato com um enorme potencial para desdobramentos, o curta-metragem cozinha acidentes e coincidências que escalonam cada vez mais em piadas visuais. Através destas, o filme fundamenta seu estilo. Com uma extrema atenção aos detalhes na imagem, a arte do curta insere elementos suficientes para circular o roteiro pelo cenário de maneira sólida e completa, de modo que seja fácil querer assistir ao filme mais de uma vez, em busca de mais aspectos de papeis de parede e janelas relacionados ao enredo.

Sincronizado a isso, o design de bonecos memorável de Elliot molda a alma de seus personagens através das suas expressões: olhos piscantes e sorrisos ambíguos já nos transportam aos seus interiores tragicômicos. Ainda, os personagens estão na grande maioria das vezes olhando para a câmera e parecem estar cientes da narração; a confecção desses cuidadosos retratos prova de maneira engenhosa como sua animação não depende da mais detalhada fluidez ou quantidade de quadros, e sim do timing em que as situações estão inseridas.

Usando desse recurso, a animação faz um pastiche de diversos recursos visuais do cinema, fundados também sobre uma edição cronometrada e minuciosa. Jump-cuts sonorizados e sequências de perseguição cartunescas sob os canhões de Tchaikovsky são clichês aplicados que dão força ao cinema de Adam Elliot e o liberta de algumas responsabilidades e cânones da animação, como a de mostrar personagens andando de corpo inteiro.

A engenhosidade desse cinema é tão celebrada em Ernie Biscuit quanto nos seus premiados Mary e Max: Uma Amizade Diferente (2009) e Harvie Krumpet (2003). Por mais que a repetição da fórmula possa estar fadada a algum esgotamento, a inventividade do humor negro das mensagens visuais concentradas em Ernie convida o espectador a ver de perto novos retratos de Elliot, dessa vez sobre a vida transformada de um velho e empoeirado “Ernie Biscuit” e seus catastróficos desdobramentos. Uma Clayography cheia de pequenos acidentes e iniciativas que mudam seu curso e podem ser cheios de ironia porque, de fato, “alguns dias você é o pára-brisas, alguns dias você é o inseto”.

Nota: 9,5/10 (Excelente)

 

Sessões de Ernie Biscuit no 26º Festival Internacional de Curtas de São Paulo:

-22/8 – Sábado – 17h – Cinemateca Brasileira – Sala BNDES

 

>>> Acompanhe a cobertura do 26º Festival Internacional de Curtas

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