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Elon Não Acredita na Morte, de Ricardo Alves Jr.

21/10/16 às 17:30 Atualizado em 08/10/19 as 20:25
Elon Não Acredita na Morte, de Ricardo Alves Jr.

“Não pode fumar aqui dentro”, mas também “não pode sair”. Elon (Rômulo Braga) está preso num estado entre a espera e a busca que parece estar fadado à instabilidade. Por ele não estar em paz com seus movimentos internos, estes podem se manifestar no exterior das maneiras mais inesperadas. Assim, a busca de Elon pela sua esposa se faz como um ato de resistência às inércias comuns do cotidiano. Elon Não Acredita na Morte interrompe os rituais do dia a dia com imagens de libertação de algumas amarras sociais que estão há muito tensionadas, principalmente em relação a obrigações familiares, profissionais e da vida em comunidade.

O rompimento de códigos sociais vem acompanhado de uma alta representatividade urbana mineira. A exploração desses espaços valoriza os labirintos suburbanos de onde derivam os personagens e por onde Elon perambula. Enquanto ele vagueia, sua busca também questiona o papel da direção do olhar imposto pela câmera: arrastamos nossos olhos pelos cantos dos quadros nos quais ele se refugia, ou somos obrigados a enxergar o que o personagem nos deixa ver com sua lanterna.

Ainda, Elon não é simplesmente um “guia”, pois sua silhueta marcada pela luz revela dos cenários tanto quanto ela mesma permite. Seu corpo cumpre um papel anti-fílmico que nos esconde, entre outros elementos, seu rosto, e assim nega a clássica posição fotogênica do ator. Dado isso, o jogo entre atores e personagens fica mais visível e forte, juntamente com a obsessão de Elon pela mulher e as imagens “inconscientes” que sua mente produz.

Não ter rosto não faz de Elon um homem vazio: ele, assim como outros personagens, reage antes de pensar, mas se retifica. Isso não só é recurso narrativo para questionar sua saúde mental, como também, e mais importante, acompanha o fluxo de seu pensamento na tela. Essa específica lapidação do tempo é um traço muito forte no cinema de Ricardo, fazendo do diálogo entre interior e exterior extremamente forte, gerando imagens que muitas vezes são explícitos jogos entre personagens e atores.

Acompanhamos o homem como o seguíamos em Tremor (2013), curta de Ricardo com personagens homônimos. Porém, desta vez vamos longe no seu desenvolvimento a ponto de absorvermos o tempo de observação do protagonista, como se entrássemos na sua cabeça e fôssemos junto em busca de sua mulher, completamente seduzidos pelo ritmo do seu olhar (fixo, na fronteira entre a atenção e a hipnose) e dos sons ao redor.

O desenho de som de Elon Não Acredita na Morte tem uma relação muito intrincada com a narrativa, fazendo suas alturas converterem-se em tensões convenientes, sincronizadas a uma trama complexa em que se cruzam os típicos leitmotifs urbanos (caminhões dando ré, latidos de cachorro, máquinas industriais) com as motivações interiores do protagonista. Como resultado, o filme acaba tendo muitas tridimensionalidades, principalmente no que tange a sua estrutura de thriller psicológico.

De maneira geral, é possível ver como o filme de Ricardo Alves Jr. engloba muito de seus outros experimentos com ficção, desenvolvimento de personagens e exploração de cenários. Viajar pelo olhar do protagonista faz um filme sedutoramente hipnótico, lapidando o tempo em planos-sequência longos, dentro dos quais uma câmera deslizante faz-nos hora seguir Elon, hora enxergar como Elon. O diálogo meticuloso entre todas as áreas do filme, com destaque para o trabalho sonoro, enriquece a experiência de assistir a esta obra em uma sala de cinema.

 

* Filme visto na abertura da 10ª Mostra CineBH

 

Sessões do filme na 40ª Mostra de São Paulo

Dia 27/10 – 19h20 – Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 2

Dia 28/10 – 16h – Reserva Cultural 2

Dia 30/10 – 15h30 – Cine Caixa Belas Artes – Sala 1 Vila Lobos

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