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Democracia em Preto e Branco, de Pedro Asbeg

11/04/14 às 14:42 Atualizado em 08/10/19 as 20:29
Democracia em Preto e Branco, de Pedro Asbeg

Democracia em Preto e Branco quer, antes de tudo, contar a história de um gesto coletivo, simbolicamente belo e importante para o Brasil da década de 80. Sem grandes pretensões formais ou necessidade de se impor enquanto cinema, interessa mais ao diretor Pedro Asbeg reconstruir, com vídeos de arquivo e depoimentos, as ocasiões mais marcantes e estabelecer protagonismos.

Nesse aspecto, assistimos ao destaque para a figura do sociólogo Adílson Monteiro Alves, escolhido por Waldemar Pires (então presidente) para ser Diretor de Futebol do Corinthians. Foi ele quem promoveu no clube o ideal de participação em que jogadores, comissão técnica e demais funcionários tinham voz igualitária na tomada de decisões, tais como locais de concentração, contratações, escalação, entre outras.

Entre os jogadores, o documentário exalta a força de três figuras emblemáticas para o movimento: um intelectual de esquerda (Sócrates), um negro filho da classe operária (Wladimir) e um jovem rebelde (Casagrande). O ex-goleiro Leão dá o contraditório ao questionar o termo “democracia”, dizendo que as decisões, na realidade, eram tomadas por uma minoria intimidadora e opressiva.

Os vídeos e imagens de arquivo têm sua força e funcionam mais para evocar lembranças do que os depoimentos, pouco inspirados. Ainda que a época tenha evidente valor sentimental para os entrevistados, mesmo os jogadores que participaram do movimento não saem muito da fala protocolar. Já a narração de Rita Lee é um afresco e dá leveza a um texto que já se pretendia informal.

Além dela, é fácil reconhecer as outras vozes sublinhando imagens: Lula, Marcelo Rubens Paiva, Serginho Groisman, Washington Olivetto (criador do termo “Democracia Corinthiana”) e Juca Kfouri integram o já habitual coro de corinthianos ilustres.

Se o parentesco ideológico entre a Democracia Corinthiana e as greves operárias é mais sólido, a conexão com o rock nacional oitentista, pelo que é mostrado, carece de substância. Por ser um acontecimento contemporâneo ao movimento e também ter caráter transgressor, pertence ao contexto, mas não se vê maior justificativa para que abocanhe o tempo destinado a ele no documentário.

Outra liberdade diz respeito às falas que atribuem à Democracia Corinthiana importância crucial para a redemocratização do país. O que vemos através das campanhas e gestos do movimento é uma relevância simbólica; o time levou ao povo conceitos e imagens importantes para a valorização da ideia de democracia. Já é suficientemente belo e foi muito além do que se esperava de um time de futebol.

Nota: 6,5/10 (regular)

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