facebook instagram twitter search menu youtube envelope share-alt bubble chevron-down chevron-up link close dots right left arrow-down whatsapp back

Command Action, de João Paulo Miranda Maria

16/09/15 às 10:28 Atualizado em 08/10/19 as 20:27
Command Action, de João Paulo Miranda Maria

Apesar do nome em inglês, Command Action não tem nada de estrangeiro ao narrar uma realidade totalmente brasileira. Dirigido por João Paulo Miranda Maria, o curta mostra um garoto perambulando por uma feira de rua numa cidade do interior. No bolso, dinheiro pra comprar alguma coisa que a mãe pediu. Enquanto ele anda pra lá e pra cá, de olho em uma barraca que tem o robô de brinquedo cujo nome dá título ao filme, constrói-se uma crônica do Brasil pós-moderno.

A tal feira existe mesmo – fica em Rio Claro, no estado de São Paulo, a menos de 200 quilômetros da capital. Encontra-se de tudo ali: de vegetais a animais vivos, brinquedos, tênis de marcas importadas, forró estourando a caixa de som, gente comentando a vida dos outros. Nosso protagonista encontra de passagem diversas pessoas, mas nunca se prende a nenhuma delas: é fulana que está grávida de novo, sicrano que tira sarro do time do amigo, moleques que fingem ser durões.

No país que há pouco tempo se gabava de ser a sexta maior economia do mundo, a falta de perspectiva social é mais comum do que parece – encontrada tanto em municípios pequenos como na periferia de metrópoles. A isso, se misturam símbolos da modernidade, como celulares e outros eletrônicos, que só fazem alienar e desviar o olho do problema real.

Para contar tudo isso em apenas 13 minutos, o diretor optou acertadamente pelo uso de atores amadores, reforçando a sensação de “vida vivida do jeito que dá, pois é assim que as coisas são”. O garoto David Santos se destaca: o protagonista vivido por ele mais parece um autômato, entediado com as coisas ao redor, sem interesse por nada – a não ser por um robô que emite luzes e sons.

A estética contribui para a desorientação. Fundo desfocado, planos fechados em rostos, mãos e objetos – no máximo, um plano médio: tudo funciona para sufocar personagens e espectadores. O real se torna tão real que mais parece mentira, um sonho de criança.

Produzido por Fernanda Tosini, Claudia do Canto e Grupo Kino-Olho, o curta em si também reflete um modo brasileiro de ser. Financiado por lei de incentivo à cultura, chegou a contar com dinheiro de rifa para ser rodado. Isso porque somos uma nação de educadores, amantes da arte. Ainda assim, Command Action foi exibido na Semana de Crítica do Festival de Cannes neste ano. Antes mesmo de filmar, João Paulo e equipe já tinham um recorte factual do nosso Brasil brasileiro.

Nota: 8,0/10 (Ótimo)

 

Leia também:

>>> Entrevista com o diretor de Command Action

Entre em contato

Assinar

Siga no Cine Festivais