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Ciclo 7×1, de Gil Baroni

23/08/15 às 16:19 Atualizado em 08/10/19 as 20:27
Ciclo 7×1, de Gil Baroni

O documentário de Gil Baroni trata de eventos muito recentes; é fácil perceber uma sensibilidade histórica acentuada. Entre junho e julho de 2014, o curta-metragem acompanha a itinerância diária da catadora Luana e seus filhos de férias por conta do período da Copa do Mundo. Sua busca por material reciclável nas ruas de Curitiba é interditada pelas avalanches de pessoas trajadas para torcer nos estádios, ou vestidas para parar o evento, ou ainda militarmente fardadas para “conter os excessos”.

O papel da câmera nessa história acaba por produzir planos bastantes imersivos, tornando difícil desconstruir a ficção deste documentário. Para isso, a confecção e escolha dos quadros parece muito minuciosa e cria uma progressão sólida para o embasamento do filme: planos do interior de bares e de cima de prédios apontam e distanciam Luana “do lado de fora”, na rua, trabalhando com reciclagem enquanto o resto do país reage diante dos jogos. As cores e sons das televisões recortam também a imagem, destacando uma outra narrativa própria e distante.

Para seguir a personagem, a equipe faz a opção por instalar uma câmera no interior de seu carrinho, por onde conseguimos ver Luana através das grades. Este plano-base é recheado pelo som da lapela da protagonista, e capta preciosas falas que refletem essa escolha de posicionamento de microfone e o isolamento de Luana diante dos eventos de junho e julho de 2014. Ela é também alvo de fotos de turistas nacionais que perguntam “por que acontece?”; e Luana: “Que eu trabalho com reciclagem? Não sei”.

Outras falas carregadas de subtemas relacionam-se narrativamente, apresentando sua premonição e desconhecimento. “Vi que ia dar merda, mas ainda acreditei que não ia” e “vou trabalhar muito pra jogar na mega-sena e ganhar” são frases que podem ser relacionadas com os sentimentos deixados pela crise política no Brasil.

É muito clara a distinção de camadas sociais alienadas umas das outras: ora nas áreas de conflito entre civis e fardados na rua, ora na sua própria casa, confundida como ponto de venda de drogas. Luana, sempre distante, acompanha de longe os conflitos e as TVs em um país em que não se conhece muito a prioridade das suas próprias iniciativas e intenções.

O olhar de Gil para “catar boas ideias” provoca o encontro e exposição de diferentes facções conflituosas. Ciclo 7×1 se faz um filme necessário que pretende celebrar o choque entre grupos alienados entre si, reunidos pelo evento que marca a necessidade não compartilhada de um país que quer mostrar-se hábil para sediar uma Copa.

Nota: 8,0/10 (Ótimo)

 

Sessões de Ciclo 7×1 no 26º Festival Internacional de Curtas-Metragens:

– 23/8 – Domingo – 19h30 – CineSesc

– 25/8 – Terça – 17h – Centro Cultural São Paulo

 

>>> Acompanhe a cobertura do 26º Festival Internacional de Curtas de São Paulo

 

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