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Chronic, de Michel Franco

24/10/15 às 11:59 Atualizado em 08/10/19 as 20:26
Chronic, de Michel Franco

Com seus filmes engajados e solidamente formatados, o mexicano Michel Franco ganhou destaque no Festival de Cannes com Depois de Lúcia (melhor filme da mostra Um Certo Olhar em 2012) e o recente Chronic (prêmio de melhor roteiro na competição oficial de 2015). Este novo trabalho reafirma Franco como um cineasta a ser visto. O filme seleciona bem as desventuras do enfermeiro domiciliar David (Tim Roth) que são atiradas ao público, principalmente para transformar em um personagem extremamente complexo este profissional da saúde apegado aos seus pacientes. Ao redor desse homem reservado, de aparência sóbria e estranhamente viciado em seu trabalho, o roteiro aos poucos desencadeia uma trama de pacientes que vai na mesma medida se converter na família desse personagem, ambas relacionadas principalmente pelas suas condições de deterioração.

Limpa de juízos de valor mais acentuados, a fotografia clara do filme contrasta com a natureza mórbida do personagem. A presença constante de corpos doentes sendo higienizados em ambientes quase clínicos e a alta luminosidade entre as sequências são elementos que se relacionam estranhamente em um ambiente perfeito para perambular o personagem singular de Tim Roth. David nada mais é que um vampiro do dia, um enfermeiro que pratica uma espécie de canibalismo sentimental com seus pacientes, consumindo suas vidas para o bem das suas próprias memória e existência.

Definitivamente, David não mantém restrições afetivas com sua família de pacientes em condições terminais. Seu envolvimento é aparentemente ideal, uma vez que supre a necessidade do misterioso homem em compensar algo do seu passado obscuro. Nessa direção, a câmera assume um olhar pouco totalizante sobre o personagem: os planos geralmente abertos e bem selecionados, na posição de testemunha, parecem resguardar algumas ações de David. A câmera só se aproxima dele para acompanhar uma outra perambulação soturna, durante a noite, por entre as memórias compartilhadas de sua filha na internet. As redes sociais como recurso fílmico para atingir a memória cria uma atmosfera ímpar que compõe de maneira bem inteligente a solidão do personagem.

Essa maneira de compor está muito bem sincronizada a um projeto de produção aparentemente minimalista e simplesmente econômico. Na construção do tempo e humor do filme, a exposição de planos confeccionados de maneira semelhante faz com que as cenas com conteúdo moral mais ambíguo despontem violentamente. Por muito isso também pode demonstrar um caimento que parece repetir uma fórmula combinada, uma rotina de edição.

Pensando em algum vício de linguagem no qual o filme possa persistir (e na rotina de produção na qual Michel Franco está engajado), parece saudável abrir espaço para questionar o quanto o cineasta estariam realmente envolvidos com os temas representados em Chronic. Talvez seja uma reflexão que persista por não parecer um filme tão ácido quanto o seu anterior Depois de Lúcia. Porém, de qualquer forma, sua presença de tela é inabalável como narrativa legítima, e o tratamento dado aos personagens é extremamente convincente, com atuações bem medidas e intoxicantes.

Assistir a Chronic é dividir os efeitos de uma experiência trágica com uma personagem, como uma doença que se alastra por todas as vias que levam a diferentes estâncias de sua vida. É dessa maneira que o roteiro dirigido-por-personagem se desenrola para criar essa rede nociva. Enquanto David perambula pelas vidas fragilizadas de outros, o filme põe em imagens o limbo sombrio de sua própria condição crônica.

Nota: 8,0/10 (Ótimo)

 

>>> Acompanhe a cobertura da 39ª Mostra de São Paulo

 

Sessões de Chronic na 39ª Mostra de São Paulo

– Dia 24/10 – 18h30 – RESERVA CULTURAL 2

– Dia 25/10 – 17h45 – ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – FREI CANECA 3

– Dia 28/10 – 19h45 – CINESESC

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