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Carol, de Todd Haynes

28/02/16 às 22:48 Atualizado em 08/10/19 as 20:26
Carol, de Todd Haynes

Dois anos após a estreia estrondosa de Azul É A Cor Mais Quente, de Abdellatif Kechiche, a temática lésbica ganha um novo grande expoente no cinema. Diferente do desolador romance francês, Carol conta a história de duas mulheres seguras de seus desejos, entregues a um amor que esbarra nos entraves da sociedade norte-americana dos anos 50. Munido de uma equipe experiente e atrizes de renome, o filme recebeu seis indicações ao Oscar e foi bem recebido em diversos festivais pelo mundo, como em Cannes, onde recebeu a Queer Palm e o prêmio de melhor atriz para Rooney Mara.

A fria e nostálgica Nova York natalina é o pano de fundo para um sentimento quase doloroso de atração que surge entre Therese Belivet (Rooney Mara), aspirante a fotógrafa que trabalha em uma loja de departamentos, e Carol Aird (Cate Blanchett), socialite que enfrenta o fim de um casamento fracassado. Ambas trazem em suas interpretações traços de outros trabalhos também reconhecidos pela Academia, como a introspecção de Mara em Os Homens Que Não Amavam As Mulheres e a elegância de Blanchett em Blue Jasmine. As personalidades são, no entanto, completamente ressignificadas quando combinadas nesse novo enredo, gerando o forte magnetismo entre a contida Therese e a sedutora Carol por meio de atuações excelentes.

O roteiro baseia-se no livro O Preço do Sal, de Patricia Highsmith, publicado originalmente em 1952 sob o pseudônimo de Claire Morgan. Na época, o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo ainda era considerado infração penal nos Estados Unidos, justificando a tentativa da autora de não ser associada à história, inspirada em um caso de sua vida pessoal. Mais de 60 anos depois, com o casamento gay legalizado, o texto adaptado por Phyllis Nagy relembra o passado judicial do país, onde uma mãe podia perder a guarda da filha devido a seu comportamento “imoral”.

Apesar de possuir uma base interessante, talvez tenha faltado a Carol uma dramaturgia um pouco mais trabalhada, principalmente na primeira metade do filme, que demonstra de forma muito leve o início do envolvimento do casal. A direção de Todd Haynes também colabora com essa sensação de distanciamento do público ao optar com frequência por planos abertos durante diálogos. A tentativa de situá-las constantemente no ambiente a seu redor acaba amenizando a intensidade das situações, uma vez que são perdidos diversos detalhes das expressões das atrizes.

É inegável, no entanto, que Haynes soube coordenar bem o resto de sua equipe, fazendo com que os aspectos mais sensoriais do filme se encaixassem e criassem uma unidade artística capaz de tornar Carol relevante nesse sentido.

Um belo exemplo é a forma como a fotografia de Edward Lachmann casa com a arte do filme. Os ambientes são bastante realistas e adequados à época, seguindo em geral uma paleta de cores dessaturadas. Os planos captam esses cenários em negativo Super 16mm, o que possibilitou um nível de granulação e de densidade de cores compatível com os negativos 35mm usados nos filmes dos anos 50, algo que não seria possível com câmeras digitais. Em meio a essa estética de tons discretos, os figurinos criados por Sandy Powell para a extravagante Carol destacam-se ainda mais, demonstrando o peso de sua presença através dos volumosos casacos de pele e roupas coloridas.

O longa-metragem pode não atingir seu potencial máximo em todos os pontos, mas não deixa de ter seu mérito por criar uma atmosfera completamente original para uma temática ainda em desenvolvimento no cinema. Carol deixará sua marca ao afirmar, pela primeira vez em uma grande produção norte-americana, que é possível fazer um filme de qualidade e lucrativo que opte por ter protagonistas lésbicas, abrindo caminho, com alguma sorte, para novos filmes do gênero que ajudem a suprir a falta de representatividade nesse segmento.

Nota: 7,5/10 (Bom)

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