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Boa Sorte, de Carolina Jabor

25/07/14 às 15:11 Atualizado em 08/10/19 as 20:29
Boa Sorte, de Carolina Jabor

O suntuoso Theatro Municipal de Paulínia recebeu com pompa e lotação máxima o elenco de Boa Sorte, primeiro longa-metragem de ficção dirigido por Carolina Jabor. Deborah Secco, que é a atriz principal do filme e faz par romântico com o protagonista João Pedro Zappa, arrancou aplausos ao dizer que aquele era o trabalho mais importante de sua carreira. O que se viu em tela, contudo, foi menos animador do que a ocasião queria fazer crer.

Adaptação do conto Frontal com Fanta, do diretor e roteirista Jorge Furtado, o filme conta a história de dois internos de uma clínica psiquiátrica que vivem uma relação amorosa. João (Zappa), jovem tímido viciado em medicamentos, encontra Judite (Secco), uma ex-viciada em drogas que é soropositiva. A força do relacionamento dos dois, por um lado, e a limitação do tempo de vida da jovem, por outro, formam o conflito que fatalmente desembocará em um final conhecido.

Como se tornou comum pelo menos desde Touro Indomável, filme de Martin Scorsese para o qual Robert De Niro engordou muitos quilos, a transformação física virou motivo de louvação por si só. Evidentemente, já foi passado para a imprensa que Deborah Secco emagreceu 14 quilos para interpretar a personagem. Ótimo, nada contra o realismo. Mas quando olhamos para a construção narrativa do filme, percebemos que essa questão da deterioração física é muito mal tratada pelo roteiro e pela própria direção.

Talvez pela persona criada pela atriz nos trabalhos televisivos, pouco nos preocupamos efetivamente com a saúde de sua personagem, até pela vida cheia de disposição que ela leva. Para piorar, a cena que parece estar ali apenas para relembrar o espectador que Judite está para morrer é a mais óbvia: a tão vezes vista cuspida de sangue, que virou um clichê cinematográfico há tempos.

Alguém pode alegar que o filme não tem compromisso com o realismo, o que em parte é verdade, já que o estado alterado dos personagens após tomarem a tal mistura de “frontal com Fanta” é retratado de maneira quase fabular. Também é difícil levar a sério uma clínica em que os internos parecem ter como única obrigação uma consulta semanal com a psiquiatra interpretada por Cássia Kiss.

Mais difícil é negar o esquematismo da história e o caminho fácil que ela trilha em seu final. Em uma das passagens mais bem feitas do filme, a câmera fixa mostra em alguns planos uma mudança ocorrida com o passar do tempo em um determinado recinto. A inspirada elipse revela uma sutileza que não será seguida nas cenas posteriores, e a ênfase em fazer o espectador se emocionar na marra é retomada, com direito até a uma animação com um cachorrinho. Antes disso, a obviedade da solução encontrada para separar os dois personagens principais também é notável.

Boa Sorte é um longa-metragem sobre a primeira vez: o primeiro amor, a primeira transa, o primeiro contato real com a morte. É também um trabalho nada promissor de uma diretora iniciante, mas sobre isso o próprio filme mostra que sempre há a possibilidade de uma segunda chance.

Nota: 5,5/10 (regular)

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