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Amor à Primeira Briga, de Thomas Cailley

17/10/14 às 05:29 Atualizado em 08/10/19 as 20:28
Amor à Primeira Briga, de Thomas Cailley

É sempre refrescante a expectativa por um filme de diretor estreante que tem sido elogiado mundo afora. O novato é aquele para quem o mercado ainda não deu valor ou aquele a quem a crítica ainda não estereotipou. É uma condição que pode ser muito fértil em termos de invenção: colocar-se, procurar uma assinatura, marcar alguma posição temática ou estética desde o início. Muitas vezes é o momento de maior liberdade da carreira de um cineasta.

O francês Amor à Primeira Briga, de Thomas Cailley, vem à 38ª Mostra Internacional de Cinema após ter ganhado um dos prêmios fornecidos pela Federação Internacional de Críticos de Cinema (FIPRESCI) no Festival de Cannes. O longa não é propriamente um cinema de experimentação e seu diálogo com a cinematografia francesa se dá mais com a produção recente do país. Junto a jovens diretoras como Céline Sciamma (Tomboy) e Mia Hansen-Løve (Adeus, Primeiro Amor), Cailley mostra interesse por um cinema dos afetos, voltado à descoberta dos sentimentos e envolto numa atmosfera leve como a água, sedutora, com ritmo dinâmico e algum espaço para o humor. 

Sob essa orientação, conhecemos Arnaud, um tranquilo rapaz que cuida de obras paisagísticas e gosta de mexer com madeira. Ele acaba de perder o pai e se vê pressionado a ajudar nos negócios da família (mãe e irmão). Numa ocasião curiosa e aleatória, conhece Madeleine (a ótima Adèle Haenel, de Suzanne e do sensível Lírios d’Água), uma jovem arredia e emburrada, que acaba de lugar o curso de macroeconomia e agora insiste em servir o exército. Arnaud desenvolve por ela aquela atração paralisante, que nos rouba qualquer identidade e nos faz viver em função do outro. O tamanho da paixão fica nítido quando Arnaud resolve prestar o mesmo curso preparatório para o exército, apenas para estar junto de Madeleine.

Cena de Amor à Primeira Briga

Arnaud e Madeleine: até onde vai a “atração entre opostos”?

O motivo dramatúrgico da relação é um jogo de opostos um tanto baseado na reversão da expectativa social que ainda há sobre os gêneros. Madeleine é uma garota rude, seus gestos são grosseiros e trata as pessoas de maneira vil. Arnaud é delicado, compreensivo, observador e não vê qualquer sentido na brutalidade. O treinamento do exército tem um quê de ridículo – é exposto de maneira a acentuar o quão patético e extemporâneo é o “preparo para o combate” –  e servirá como laboratório para que as contradições entre os dois ascendam. Uma bela cena, emblemática do choque de personalidades, traz ambos maquiando um ao outro para que possam se camuflar nas florestas.

É um entre muitos momentos cujo brilho poético é o da síntese: a busca por uma identidade e a influência que uma paixão pode ter nesse processo são duas das principais questões do filme. No fundo, Arnaud e Madeleine nos sugerem uma conexão maior entre amor e descoberta. É como se a intensidade do sentimento pautasse uma mudança de olhar e uma revelação de autoconhecimento. O título em francês (Les Combattants) insinua o quanto brigamos – contra o outro, contra nós mesmos e contra o que sentimos. 

Nota: 8,0/10 (Ótimo)

 

Sessões do filme na 38ª Mostra de São Paulo

– 18/10, às 15h50, no Espaço Itaú de Cinema – Augusta 1

– 19/10, às 17h45, no Cine Livraria Cultura – Sala 1

– 22/10, às 21h30, no Cine Sabesp

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