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A Seita, de André Antônio

25/11/15 às 09:17 Atualizado em 08/10/19 as 20:26
A Seita, de André Antônio

A Seita é o primeiro longa-metragem do coletivo pernambucano Surto & Deslumbramento, composto por autores de uma série de curtas (como Casa Forte e Virgindade) voltados de alguma forma para a temática Queer. Financiados pelo próprio grupo, os filmes anteriores experimentaram livremente formas visuais e narrativas inusitadas. O novo trabalho, apesar de ser a primeira obra com patrocínio externo, felizmente mantém o espírito irreverente do coletivo.

Dirigido e escrito por André Antônio, o filme se passa no Recife em 2040, um futuro de certa forma contemporâneo, no qual o jovem protagonista interpretado por Pedro Neves, recém-chegado das colônias espaciais, isola-se no apartamento antigo para estudar e relembrar os comportamentos terráqueos.

A qualidade técnica logo fisga a atenção de quem assiste. De forma bastante criativa, a equipe consegue criar um jogo harmonioso entre fotografia, direção de arte e som, sendo cada um desses responsável por atrativos diferentes.

A trilha eclética e impactante contempla cenários pouco previsíveis de um mundo futurista: do lado de dentro do apartamento, há quase um pequeno palácio, requintadamente colorido, assim como os belos figurinos de todos os garotos que por lá passam. Da janela pra fora, as roupas vibrantes contrastam com ruas completamente desertas e abandonadas filmadas no Recife atual, reduzindo a paleta às cores do concreto e do mato que avança.

Os planos estáticos captam esse visual de forma eficiente, causando por vezes estranhamento ao se misturarem com movimentos de câmera na mão que passeiam pela tela ou zoom ins bruscos, típicos de filmes dos anos 70.

Esse futuro que não é moderno, mas também não é o presente, favorece a criação de um universo de certa forma atemporal, no qual os únicos habitantes parecem ser o protagonista e seus affairs. Livres de interferências externas e entregues ao ócio, as relações entre os jovens são pouco exploradas de forma dramática, mas sim transformadas em um palco para reflexões levemente existencialistas, por meio de diálogos bastante naturais e da própria narração do garoto.

A descoberta da seita, grupo de jovens subversivos ao sistema vigente na Terra, é a constatação da imersão total do personagem em seu Recife antigo-novo, o lugar onde começa a participar de fato daquilo que vem observando. Entretanto, talvez pelo momento em que aparece no roteiro, a monotonia que precede a seita parece ser mais relevante no enredo.

Isso se dá porque a narrativa não percorre um caminho exatamente dramático, em que o espectador anseia por uma conclusão. O filme corresponde mais à exibição pontual de um status quo, ao qual o protagonista e quem assiste rapidamente se familiarizam.

Quando associada à temática LGBT, essa decisão tomada pela direção e pelo coletivo se torna interessante, uma vez que o tal status quo é inteiramente permeado pelo imaginário gay, apesar de a homossexualidade não necessariamente ser um assunto constante – algo presente também no cinema contemporâneo estrangeiro, como nos filmes do canadense Xavier Dolan.

No caso da Surto & Deslumbramento, esse imaginário é trazido em suas mais diferentes vertentes – gestos, trejeitos, roupas, assuntos – sem preocupação alguma em suavizar o estereótipo, mas sim em exibir de fato o gay afeminado e extravagante, tornando-o natural em sua peculiaridade e artisticamente relevante.

Nota: 7,5/10 (Bom)

 

*Filme visto no 23º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade

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