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A Despedida, de Marcelo Galvão

26/01/15 às 16:28 Atualizado em 08/10/19 as 20:28
A Despedida, de Marcelo Galvão

A sequência inicial de A Despedida, filme de Marcelo Galvão, é belíssima. Com paciência, acompanhamos o ritmo lento do levantar e do caminhar de Almirante (Nelson Xavier). O som ruidoso nos coloca no ponto de vista daquele personagem que iremos seguir durante todo o filme, e os créditos colocados quando ele adentra um corredor já prenunciam a última caminhada de uma vida que está chegando a seu ponto derradeiro.

Almirante quer sair da posição infantilizada em que a velhice fatalmente nos coloca, quer voltar a ter contato com o mundo exterior, nem que seja por uma última vez. É essa saída que o enredo irá mostrar, com a inteligência de guardar para o final o encontro que mais importa.

Nesse ínterim, o protagonista encontra personagens pouco desenvolvidos pelo roteiro (um taxista piadista, uma loira que o ajuda, adolescentes que fumam maconha, um atendente de bar), o que atenua esse choque entre Almirante e o mundo exterior.

Algumas falas rompem a linha tênue entre a obviedade e a vontade de um idoso de falar sobre a sua condição (“não tem depois”). Da mesma maneira, a direção é avessa à sutileza no uso da metáfora do relógio como símbolo do tempo que está chegando ao fim para o protagonista.

No plano inicial, a imagem do objeto seguida pela caminhada do Almirante tem um propósito interessante, mas a reiteração dela (no ambiente da conversa com o filho, na fala do taxista, na casa da amante) torna a intenção óbvia demais, como se o filme precisasse lembrar a todo momento que aquele senhor está morrendo.

Por outro lado, não faltam momentos inspirados no filme, principalmente depois que ocorre o encontro do protagonista com a personagem de Juliana Paes, atriz que consegue se desvincular da persona construída na televisão para atingir um tom menor mais adequado à situação.

Quando não opta pelo caminho da obviedade, Marcelo Galvão consegue construir imagens belíssimas e simbólicas. Só para ficar em dois exemplos: a chegada da personagem em casa é seguida pela percepção de que o Almirante está ali, bastando um simples passar de creme para sugerir diversas possibilidades de leitura para o relacionamento passado entre os dois; e o rápido plano aberto que mostra o protagonista na banheira com os olhos fechados, como se estivesse em um caixão.

Mais interessante ainda é a construção de uma sequência que mostra o cadarço do tênis do Almirante desamarrado. O espectador acostumado a um esquema narrativo clássico espera que o personagem tropece e caia em algum momento, e o plano aberto que o mostra atravessando a rua aumenta essa expectativa, que é negada pelo diretor.

Está ali uma boa síntese de A Despedida: por que mostrar um pequeno tombo cotidiano, se a tragédia maior está na finitude da vida?

Nota: 7,0/10 (Bom)

 

*Filme visto na 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes

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