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A Cidade do Futuro, de Cláudio Marques e Marília Hughes

13/06/16 às 18:12 Atualizado em 08/10/19 as 20:26
A Cidade do Futuro, de Cláudio Marques e Marília Hughes

Em Depois da Chuva, seu longa-metragem de estreia, a dupla baiana Cláudio Marques e Marília Hughes explorou um período pouco retratado pelo cinema de ficção nacional (o antes e o depois das Diretas-Já) para traçar um comentário sobre o Brasil atual. No novo trabalho dos diretores, A Cidade do Futuro, o movimento da narrativa é inverso, se mostrando como uma tentativa de tratar de questões latentes na sociedade brasileira (como a luta pelas liberdades individuais e contra a homofobia) ao mesmo tempo em que olha para um passado de exclusão.

Diferentes noções de arqueologia (literal, social, histórica) servem como elementos de base para a narrativa. Possuindo um parentesco temático com a situação da Ceilândia (DF) em A Cidade é Uma Só?, de Adirley Queirós, o filme baiano joga luz inicialmente ao êxodo gerado pela construção da Usina Hidrelétrica de Sobradinho, que extinguiu localidades sem o consentimento dos moradores da região e teve como contrapartida governamental falsas promessas de boas condições em municípios criados para abrigar as mais de 20 mil famílias afetadas. Uma dessas cidades, Serra do Ramalho, serve como palco para o filme no tempo presente.

Gilmar (Gilmar Araújo) e Mila (Mila Suzarte) são professores, fato que ilustra uma ideia de emancipação pela cultura que permeia muito da narrativa – tendo a sua tradução imagética no plano em que um berço é sustentado por alguns livros. Ele se interessa pelo passado de afronta aos direitos civis da geração que primeiro habitou a cidade, enquanto passa a ser objeto de uma tentativa de marginalização semelhante ao lado dela, que faz parte de um grupo de teatro e também leciona na escola.

Em cenas como a da reportagem exibida em sala de aula e o texto teatral antes do crédito inicial estão presentes possibilidades de uma recriação criativa de um passado que reverbera no presente, mas em outros momentos, como nas duas vezes em que senhores contam sobre o que aconteceu após a construção da hidrelétrica, há a presença de falas quase professorais, que parecem estar ali só para reforçar certas informações.

De um modo parecido, o conflito central – causado pela reação da sociedade à gravidez de Mila e à ideia de que a criança tenha dois pais, o casal Gilmar e Igor (Igor Santos) – se desenvolve calcado na literalidade de certos diálogos em cenas como a resistência de Gilmar a se mudar (“foi assim com nossos pais”), a conversa de Mila com o irmão e a ameaça dos vaqueiros a Igor. Mesmo quando se nota uma pretensão lacunar, como no momento em que Igor é informado sobre a gravidez e questiona “quem é o pai?”, a resposta parece sempre vir rápido demais, sem colocar o espectador em um universo de nuances.

A ideia de interpretação não-naturalista que permeia a projeção, aliada à falta de peso de muitos diálogos, gera uma dureza nas atuações que acaba por retirar muito da potência cinematográfica que o projeto poderia alcançar. O resultado é um quase esvaziamento da relação similar à da ficção entre os três intérpretes, sem que haja uma verdadeira porosidade decorrente das possibilidades do hibridismo. Falta uma visceralidade que nos lembre que aquela relação está impregnada do real (seja ele pré-existente ou cinematográfico).

Nota: 6,0/10 (Regular)

 

>>> Acompanhe a cobertura sobre o 5º Olhar de Cinema

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