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A Batalha da Maria Antônia, de Renato Tapajós

25/01/15 às 14:02 Atualizado em 08/10/19 as 20:28
A Batalha da Maria Antônia, de Renato Tapajós

No emblemático ano de 1968, em que fervilhavam manifestações políticas no mundo todo, o Brasil já era governado pelo regime militar. Antes da acentuação da repressão, que teve como ponto simbólico, em dezembro daquele ano, o Ato Institucional nº 5, o clima de disputa política e o cerceamento de direitos já era uma realidade. O documentário A Batalha da Maria Antônia, de Renato Tapajós, se volta para esse período para tratar de um confronto que envolveu estudantes da Faculdade de Filosofia da USP e da Universidade Mackenzie, que naquele momento estavam situadas na mesma rua.

De um lado, havia um forte movimento estudantil de esquerda que ocupou o prédio da Faculdade de Filosofia da USP. Do outro, os alunos do Mackenzie – que algumas falas fazem questão de frisar que eram uma minoria dentro do local – ligados à direita e ao Comando de Caça aos Comunistas. O filme sugere que aquela batalha representava um microcosmo da batalha ideológica que havia no Brasil e que só esperava um estopim para resultar em um enfrentamento maior.

Os primeiros minutos do documentário, que trazem um ator atirando um coquetel molotov e mostram uma montagem ágil com notícias da época, sugerem uma liberdade que o filme nunca consegue alcançar. Seja pela narração em off do diretor – que faz questão de dizer o que quer que o público pense sobre o que está mostrando – ou pela escolha por um formato tradicional de documentário (com talking heads), há a nítida sensação de que estamos assistindo a uma tese pronta, um filme que não se abre para novos questionamentos que poderiam surgir durante a sua feitura.

Se esta tese (“aquele momento é importante para entendermos nosso presente”) não fosse frágil e estivesse demonstrada com vigor em tela, isto não seria um problema em si. Acontece que a ideia de que o filme não é um mero exercício de nostalgia é refutada pela própria obra. Muitas das falas parecem ser apenas recordações de velhos amigos, o documentário apresenta poucas nuances possíveis para a versão contada (que abrange apenas um lado dos fatos) e a ligação com o tempo presente é mal desenvolvida, tendo que ser ressaltada pela fala (ou seria aula?) do diretor.

Em certo momento do documentário, um entrevistado relembra com certa vergonha que era maoísta na época do confronto. Está ali uma autocrítica que faria muito bem ao filme, mas que a nostalgia impediu que ele obtivesse, talvez por levar muito a sério a ideia de que 1968 não acabou.

Nota: 4,0/10 (Ruim)

 

* Filme visto na 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes

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